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    PROCESSO NADA DIVINO

    Um dos textos mais usados para comprovar a divindade da Bíblia é: "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça" em 2 Timóteo 3.16. Então vamos a algumas considerações bem óbvias.

    1. É a Bíblia falando de si mesma. Talvez eu diga de mim mesmo ser um profeta de Deus e alguém acredite;
    2. Esse texto está numa das cartas do apóstolo Paulo e, portanto, refere-se ao Velho Testamento;
    3. Foram homens que escreveram. Contudo, voltamos à Bíblia falando de si mesma: "Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo" em 2 Pedro 1.21. Seriam homens totalmente imunes às paixões da vida? Gente totalmente desvinculada de seus próprios desejos e sem fraquezas? Gente com a capacidade de ouvir a Deus plenamente? É possível. Mas lembre-se que as referências de fé descritas na Bíblias como Abraão, Isaque, Davi e Salomão, não se enquadram numa moral tão ilibada que possam ser tidos como imunes a exporem um tanto de si mesmos naquilo que escreveram;
    4. Como não temos os originais, apenas cópias dos textos que compõe a Bíblia, resta saber se os copistas também eram pessoas tão inócuas às nossas humanidades quanto os escritores originais. Evidentemente que, diante do fato de termos apenas um exemplar de um determinado evangelho, por exemplo, temos que considerar que este tenha sido reproduzido por homem santo, no sentido mais amplo possível da palavra. Para que você tenha uma ideia do que seja isso o mais antigo manuscrito do Novo Testamento é um pequeno fragmento (isso mesmo, um fragmento, porque o restante vem depois) do evangelho de João, datado da primeira metade do segundo século, ou seja, pelos menos 100 anos depois dos fatos narrados. Também ha trechos, mesmo que pequenos em que não há consenso sobre o que seria o verdadeiro escrito. Se há pequenos, os maiores podem ser consenso em cima do falso;
    5. A Bíblia foi compilada no ano 325, com o Concílio de Nicéa. Então, os homens que escolheram quais livros eram os da 'vontade divina' também deveriam ser inspirados por este Espírito Santo. Haja vista a existência à época de outros tantos escritos sobre Jesus e os apóstolos fica a dúvida se a escolha foi a correta. Entretanto, vale lembrar dos julgamentos da época, contra os ditos hereges. Julgamentos que de puros não tinham muita coisa, pois heresia é uma questão de ponto de vista e hoje alguns cristãos o seriam conforme a igreja que os julgasse. Teriam excluído, dada suas limitações carnais e ruídos sociais para ouvirem o tal Espírito, outros textos que nos chegaram sobre a vida de Jesus? E quantos mais textos se perderam pelo caminho?
    6. Por fim, temos as traduções. Como superar as diferenças linguísticas? Há palavras e tempos verbais que inexistem em português e que haviam em grego, aramaico ou hebraico. São simplesmente impossíveis de serem traduzidas de um idioma para outro sem que haja uma explicação, uma nota de rodapé, ou coisa semelhante. Por exemplo, no grego havia três formas de gerúndio e nós só temos uma: ''ando''. Como esperar que alguém, limitado ao Português, tenha entendimento do que estava escrito? Por inspiração do Espírito Santo? Ora, e nossas humanidades pecaminosas não seriam um problema para que o ouçamos? É o que dizem os cristãos. E dada a diversidade de opiniões vê-se que há problemas nessa comunicação.

    Uma das coisas que me chama a atenção é que ela diz de si mesma ser suficiente. Então por que razão haveria a necessidade de ''ouvir a voz do Espírito Santo'' para compreende-la, como costumam dizer os cristãos? Se esse espírito age neste sentido por que haveria a necessidade de um livro? Bastaria que ele transmitisse o que Deus deseja.

    Enfim, notamos um processo puramente humano para que a Bíblia chegasse até nós. E na forma como chegou, aos pedaços, infinitamente transcrita, é compreensível dela duvidar. Aliás, tê-la como 'Palavra de Deus' é absurdo. Contudo, dadas tantas ameaças há quem a julgue divina justamente por tudo que passou. Bem, neste caso temos o imponderável, aquilo que não cabe outra coisa senão a fé, a mesma que move tantas outras crenças e nos faz cair num mundo de inconsistências.


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