POR QUE O DEUS BÍBLICO NÃO MATOU SATANÁS?
Observe este texto de Número 15:32-36, o qual não precisa de quaisquer interpretações:
³² Estando, pois, os filhos de Israel no deserto, acharam um homem apanhando lenha no dia de sábado. ³³ E os que o acharam apanhando lenha o trouxeram a Moisés e a Arão, e a toda a congregação. ³⁴ E o puseram em guarda; porquanto ainda não estava declarado o que se lhe devia fazer. ³⁵ Disse, pois, o Senhor a Moisés: Certamente morrerá aquele homem; toda a congregação o apedrejará fora do arraial. ³⁶ Então toda a congregação o tirou para fora do arraial, e o apedrejaram, e morreu, como o Senhor ordenara a Moisés.
De imediato surgem três problemas. Que lenha se estavam no deserto? Há Acácias extremamente esparsas como única opção de lenha. No livro de Êxodo 12:37 indica que saíram do Egito cerca de 600.000 homens aptos para a guerra. Com este dado estima-se que havia 2 milhões, entre esses guerreiros, outros homens, mulheres e crianças. É simplesmente impossível que houvesse lenha para aquecer no frio do deserto e preparar comida. E o que chama muito a atenção é que, dada as circunstâncias, a caminhada levaria, no máximo, com todo esse povo, 25 dias. Enfim, é dos mitos serem contrários, ou desalinhados, com os fatos. Apenas para registro, já que o assunto é outro.
No caso específico, temos um exemplo claro do modo como o Deus bíblico tratava os que o desobedecessem. Contudo, esta inflexibilidade não alcançou SATANÁS. Este ser de luz foi muito além de catar lenha. Não seria óbvio que fosse eliminado no ato de sua rebeldia? Por que o manteve vivo e em condições de perturbar toda a sua criação?
Não há resposta nessa crença religiosa. Contudo temos algumas coisas para observar. Satanás não aparece na Torah (cinco primeiros livros da Bíblia) e é mencionado a primeira vez em Jó 1:6: "E veio um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, e veio Satanás (ha-satan) também no meio deles.". "Ha-satan" aparece significando opositor, referindo-se a um anjo enviado pelo Jeová, em Números 22:22. Assim, qualquer um que se opõe a algo, por bem ou mal, é ha-satan, ou age como tal. E, vale lembrar, que a mitologia de Jó tem um precedente bem mais antigo entre os Sumérios, sendo o "sofredor" bíblico posterior em, pelo menos, 600 anos.
Já Satanás aparece pela primeira vez num texto que causa divisões. Em 1 Crônicas 21:1 diz que "Satanás levantou-se contra Israel e levou Davi a fazer um recenseamento do povo". Porém, em 2 Samuel 24:1 fala que "E a ira do Senhor se tornou a acender contra Israel; e incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a Judá". O mesmo fato é atribuído diretamente à ira de Deus, excluindo a figura satânica.
Ou seja, a própria existência desse ser do mal é controversa, por mais que esteja clara no Novo Testamento.
Ora, Jeová teria usado dois pesos e duas medidas ao poupar Lúcifer? Não seria a única vez na Bíblia. Temos a própria "salvação pela graça", contrapondo-se à Lei mosaica. No caso do rei Davi o duplo senso moral é aviltante. Note como era, ou deveria ser, tratado o adultério em Levítico 20:10: "Se um homem cometer adultério com a mulher de outro, se cometer adultério com a mulher do seu próximo, tanto o adúltero quanto a adúltera serão mortos" e em Deuteronômio 22:22: "Se um homem for encontrado deitado com a mulher de outro, os dois terão que morrer: o homem que se deitou com ela e a mulher. Eliminem o mal do meio de Israel". Eis que, vem Davi e adultera com Bate-Seba (ou Batseba), descrito em 2 Samuel 11, e sai ileso! Dois exemplos para termos uma ideia do conflito.
| Representação leonina como agente do mal no dualismo de Zoroastro |
Se há uma certa flexibilização na lei, quando interessa, obviamente, já que um catador de lenha e "nada é a mesma coisa" nesse contexto, o que mais poderíamos esperar? Se a lógica da conveniência se aplica ao Deus judaico/cristão poderíamos inferir que a existência de Satã é conveniente para este Deus.
Esta conveniência, ou um propósito, se vê na própria condução da fé ao longo do tempo. Ao excluirmos o Maligno nada mais resta. Há uma nítida dependência de Deus para que haja medo. E medo do Inferno como está em Mateus 25:41: "Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: 'Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos'".
Não há um Deus a ser respeitado sem uma condenação, representada pelo Diabo e o Inferno. Eis o porquê de não ter sido morto ao desobedecer seu criador. Se isso te parece fruto de AMOR DIVINO... Que seja!
Nenhum comentário
Comentários com conteúdo agressivo não serão publicados.