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    O DÍZIMO... e a dinheirama das igrejas.

    É recorrente ouvirmos comentários sobre o absurdo de grana que circula nas igrejas evangélicas, os templos suntuosos e a vida de rei dos grandes líderes. Realmente há muito dinheiro nisso. Mas onde está o problema? Se é que existe um problema. Por que deveríamos condenar algo que não é imposto, é voluntário e individual? As discussões sempre são, ao meu ver, rasas como um pires e neste texto me proponho em lançar alguns detalhes para meditação porque, sem sombra de dúvidas, esse fenômeno social tem algo mais profundo que o dinheiro. Creio que um sociólogo consiga ir mais fundo, mas mesmo assim vou me atrever.

    Dízimo não é doutrina neotestamentária. Tampouco está na Lei mosaica. Surgiu espontaneamente quando Abraão assim o quis, se tornou uma tradição e está vinculado ao templo. O templo, nas culturas antigas, notadamente as sumérias de onde vieram os hebreus, servia de depósito e controle de alimentos para épocas difíceis.

    Ora, não há qualquer diretriz nesse sentido no Novo Testamento. O apóstolo Paulo não cita a palavra 'dízimo' uma vez sequer. Fala em ‘ofertas’ apenas, 'segundo propôs em seu coração'. No livro de Hebreus apenas relembra a iniciativa de Abraão, precursor do dízimo, mas não determina que seja seguido.

    Na única vez em que Jesus fala de dízimo como algo a ser seguido está em conversa com os fariseus, já que o templo mantinha-se por conta das contribuições, como é hoje. Em nenhum dos seus discursos diz que dízimo é obrigatório ao seu seguidor, talvez porque também não há orientação na construção de templos. Por outro lado está implícito que os líderes da igreja recebiam salário. Porém, isso não está claro no Novo Testamento. Sem qualquer sombra de dúvidas não há orientação sobre a gestão de recursos e despesas da igreja cristã. No máximo podemos aceitar que houvesse a figura do tesoureiro, como o foi Judas Iscariotes. É um assunto quase inexistente no Novo Testamento.

    Eis, meus caros amigos, o primeiro dos problemas: a desconsideração do que seja de fato determinação bíblica. Os cristãos evidenciam muito bem isso ao defender o dízimo e falar que é coisa da Palavra de Deus. Evidente que replicam o discurso dos líderes, que por sua vez, replicam o que receberam... A vasta multidão de crentes não têm conhecimento neste sentido e tudo é muito confortável: nada a ser questionado.

    O segundo problema: a troca. Os cristãos refletem essa mesma problemática. Deus abençoa porque o crente faz alguma coisa? Esse Deus é um negociante? Não dá algo porque ama, mas porque é obedecido? Ou, ainda mais nebuloso: Deus não abençoa se não for fiel no dízimo? Uma boa discussão que as igrejas não fazem porque se descobriria o óbvio: tem boi na linha e a vida revela outra coisa. Claro que revela. Os dizimistas não estão imunes às desgraças, doenças, crimes, acidentes e toda a sorte de males. É o estelionato divino. De qualquer forma a ideia da troca está de tal forma entranhada na concepção religiosa que tornou-se inquestionável nas igrejas pentecostais e neo-pentecostais, já que nas fundamentalistas (Presbiteriana, Menonita, Batista, Luterana etc) o assunto é tratado de forma mais amena e nem sempre há essa pressão. Mas devo fazer duas pequenas provocações: se Deus abençoa porque se tem uma vida digna e dizimista o mérito é do abençoado; e, amor implica em ser bom independente do outro, muito mais se pensaria isso de Deus.

    O terceiro problema: a necessidade de algo maior. O instinto de pertencimento a um grupo é muito forte em nós. Poucos conseguem subtrair de si essa máxima da vida em sociedade. Daí, como temos um povo sem qualquer estudo, incapaz de pensar por si, é imperioso ter uma ideia maior. Precisam de dogmas que deem diretriz a uma vida perdida. É assim que tantas e tantas idéias sobre Deus e a existência surgem. Isso é um buraco sem fundo, no qual vão entrando toda e qualquer concepção sobre o mundo imaterial, sobre o que seja felicidade, vida em abundância, espiritualidade etc. Se o grupo contribui com o dízimo e é orientação da liderança, como pertencer ao grupo sem fazer o mesmo que o grupo?

    Quarto problema: liderança. Da mesma forma que o povo necessita de algo para pensar, precisa de líderes. Esses religiosos cumprem bem esse papel e o palco (púlpito) é sedutor, é um ícone. Essas gentes precisam de homens e mulheres que tenham firmeza em suas palavras, que não oscilam entre pensamentos, que passem segurança. Mesmo que o conteúdo seja falso, como se vê nessa turma de Era de Aquarius, ritos indígenas, comunismo etc.

    Essas doações de dinheiro apenas manifestam problemas muito maiores e não são o mal em si. Afinal, mesmo que o caso não seja o das bênçãos, o templo requer manutenção, funcionários, investimentos etc.

    É isso meus queridos... resumidamente é claro!

    6 comentários:

    1. parabens Andre. pontuastes com inteligencia e sabedoria. jairo martins

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    2. Grande defesa...concordo com vc Andre!
      zeta machado - Ativista Ambiental.

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    3. Olá André, gostaria de sugerir o acréscimo de algumas quetões a este texto tão bem escrito.

      Neste site você encontra uma matéria que lhe dará ainda respaldo para falar sobre tal assunto.

      http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/helioschwartsman/ult510u660688.shtml

      Espero ter ajudado.

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    4. Falaste bem do fenômeno neo-pentecostal. E o que tens a dizer sobre os protestantes clássicos, como nós, presbiterianos? O que podes dizer sobre o modo como administramos/damos ofertas e dízimos?

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      Respostas
      1. Otávio não fiz distinção entre correntes cristãs ao considerar o dízimo. Observe esses trechos:
        "Dízimo não é doutrina neotestamentária. Tampouco está na Lei mosaica."
        "...o primeiro dos problemas: a desconsideração do que seja de fato determinação bíblica. Os cristãos evidenciam muito bem isso ao defender o dízimo e falar que é coisa da Palavra de Deus."

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    5. Sou cristão e nunca dei dízimo,dou ofertas quando precisam construir algo... comprar algo de beneficio para nós frequentadores e coisas do gênero, entende? Nunca fui muito dessa de dízimo.

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