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    A ORIGEM DA EXPRESSÃO 'VANDALISMO' (Apresentado em aula de História Antiga)

    VÂNDALOS E VANDALISMO


    André “Roldão” Souza

    Mariane Amboni Marcelino
    Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI
    História (HID 0130)
    18/abril/2011


    RESUMO

    Consideramos neste trabalho a possibilidade de esclarecer a origem do termo vandalismo. Para tal fez-se necessário estudar não o momento em que a palavra foi cunhada, mas porque ela foi cunhada. Nesse sentido foi buscado a origem do povo Vândalo, sua trajetória pelo mundo da história antiga, suas lutas, conquistas e seu derradeiro desaparecimento. Na Introdução, além das questões a serem respondidas pela pesquisa, há uma breve relação com outras ações humanas ao longo da História. Em seguida o povo, ou povos Vândalos, são e localizados em sua origem e depois em suas migrações. Além disso, há a referência a conquista de Cartago, como fato singular no modo de conquistas que permearam o surgimento e declínio de grandes centro do passado. Na conclusão é feita uma análise da construção da palavra e seu uso hodierno dentro da dinâmica das línguas e seus constantes, espontâneos e incontroláveis neologismos. 

    Palavras-chave: Vandalismo. Bárbaros. Roma. África.

    1 INTRODUÇÃO


    A História sempre será reveladora. Nesse contexto se vê o vandalismo de hoje grassando nas ruas, em prédios públicos e privados, em eventos esportivos, nas escolas etc, e a origem da expressão. Esse “ismo” de hoje reflete o total desrespeito para com o alheio como uma filosofia de vida, ou um estilo de vida, ou mesmo como espasmos momentâneos de submissão ao grupo que pertence o agressor. Imortalizada como sendo uma ação de destruição é resultado de um episódio na história protagonizado pelos Vândalos.

    Quem seriam esses Vândalos e o que fizeram para entrarem para a história de modo tão jocoso? Teriam feito algo ainda mais aterrador que os Romanos ao destruírem Jerusalém no ano 70 d.C.? Seriam mais furiosos e insanos que os Hunos sob o comando de Átila? Pilharam mais que os espanhóis ao império Inca? Teriam tido mais desprezo pela humanidade que os comunistas nas ordens de Stalin ou Mao Tsé-Tung?

    Diante dessas e de outras questões vamos estudar o há de conhecido desse povo. Vamos tirar da História informações para responder quem eram, como viviam, seus feitos e como desapareceram. Dessa forma teremos, não somente entendimento etimológico, mas também daremos mais um passo em direção a nós mesmos e as possíveis eternizações de fragmentos das nossas vivências.


    2 CARACTERÍSTICAS DO POVO VÂNDALO


    É consenso entre os historiadores que os Vândalos são de origem germânica (bárbaros) e tenham surgido na Escandinávia, provavelmente onde é a Noruega de hoje, no primeiro século do calendário cristão. Em sua história é facilmente identificada a migração provavelmente em função de divisões internas, necessidades de locais mais apropriados para seu sustento e impelidos por outras tribos. Os vândalos tiveram duas tribos mais significativas: os Silingos e os Asdingos. Contudo, não há informações claras sobre o modo de vida, culinária, artes ou mesmo heranças que poderiam ter deixado à humanidade.

    Da Escandinávia passaram pela Gália, península Ibérica e chegaram ao norte da África. Estiveram também onde hoje é a Romênia. Nesse percurso por séculos enfrentaram e foram aliados do Império Romano, se viram ameaçados pelos Hunos de Átila e lutaram contra outros germânicos, com os quais também realisaram alianças, num claro dinamismo político.

    Seu fim se deu sob o ataque do imperador romano Justiniano que, se aproveitando de um momento de fragilidade política desse povo, enviou para a “África um corpo expedicionário, comandado por Belisário que, aproveitando o apoio dos Ostrogodos da Sicília e dos povos indígenas africanos, derrubou em pouco tempo o reino dos Vândalos (junho de 533 - março de 534), que saíram assim definitivamente da História”[1].

    Os primeiros registros escritos a seu respeito se deram no confronto que tiveram com o exército do imperador Marcos Aurélio, ao atravessarem o rio Danúbio em direção ao sul, no território onde hoje é a Alemanha no ano 270.


    3 MIGRAÇÕES

    Sua primeira migração se deu para o sul no início do terceiro século, quando chegaram ao Danúbio. No ano de 270 foram expulsos para outra margem desse rio inaugurando um misto de vontade de expandir ou conquistar com a pressão exercida por outros povos. Também foram tratados pelos romanos como bárbaros, identificação dada a quem não pertencia ao Império. Em sendo assim, habitaram as extremidades do Império Romano.

    No início do século V chegaram à península ibérica. Nessa época já estavam cristianizados. Entretanto, seguiam a alinha ariana da fé cristã. Nessa concepção Jesus não tem natureza divina, numa negação clara da Trindade. Essa posição doutrinária foi fortemente atacada pela igreja, tão logo obteve poderes para tal com a conversão do imperador Constantino, no início do terceiro século no nosso calendário.

    O grupo que chegou onde é a Romênia atualmente foi atacado pelos Hunos, sob o comando de Átila. Forçados, migraram para oeste. Em seu caminho estavam os Francos. Depois do confronto com os Francos atravessaram os Pirineus e chegaram em 409 à península Ibérica. Ali se estabeleceram, dominando a região, graças ao sistema de concessões dos romanos chamado Foederatti, em que os povos bárbaros recebiam terras e em troca forneciam homens para o exército. Nesse tempo Gunderico era rei dos Vândalos Silingi. Seu meio irmão Genserico decidiu formar uma esquadra e através do Estreito de Gibraltar chegou à África em 429.

    O primeiro registro de saques realizados pelos Vândalos se deu por volta do século IV após um confronto com os Francos. Dessa batalha saíram mortos cerca de 20 mil Vândalos e sua vitória foi possível graças à ajuda de outro povo bárbaro, os Alanos. Essa união com os Alanos propiciou a formação de um grande reino que chegou à Sicília, Sardenha e Córcega através de uma eficiente capacidade de navegação.


    3 “VANDALISMO”

    Na África eles protagonizaram a única dominação de uma cidade na antiguidade em que não houve mortes em grande escala. “Em 429, depois de se tornar rei, Genserico cruzou o estreito de Gibraltar e se deslocou a leste até Cartago. Em 435, os romanos lhes concederam alguns territórios no norte da África, e já em 439 Cartago caiu ante os vândalos”[2]. Nesse episódio a invasão se deu de forma paulatina e relativamente pacífica. Quando os cartagineses se deram conta estavam dominados.

    Porém, a relação do nome Vândalo com vandalismo se deu por causa da invasão de Roma em 455, mesmo tendo recebido dos romanos algumas benesses havia algumas décadas. Por duas semanas eles atacaram a cidade destruindo, principalmente, obras de artes. Muitas delas frutos dos saques a Jerusalém e Grécia pelos romanos. Tal foi a agressão à cidade, às obras, muitas delas jamais foram restituídas, que chamou a atenção do Império Romano do ocidente em franca decadência e demais povos da época, notadamente o Império Romano do oriente.

    É possível que tenha sido o maior ataque dessa natureza jamais registrado na história das civilizações, por não ter sido uma ação de conquista, mas basicamente de pilhagem. As destruições que ocorreram ao longo do tempo não foram alvo de fúria tão objetiva como nessa invasão de Roma, tampouco foram os Vândalos os únicos a atacarem Roma num período em que o império ruía e os bárbaros dominavam. Em geral, as perdas para a cultura das artes se davam como um efeito colateral aos fatos dessa natureza.


    4 CONCLUSÃO

    “A acepção atual de vândalo no sentido de depredador provem do adjetivo francês ‘vandalisme’, cunhado em 1794 pelo bispo republicano Grégoire, para criticar os depredadores de tesouros religiosos.”[3] Com o tempo a palavra ganhou mais peso.

    Nossa cultura relaciona a depredação de obras de arte e espaços públicos à palavra vandalismo. Coisa que se vê ainda hoje, quando um bem é gratuitamente depredado por um desconhecido sem que haja, necessariamente, uma relação direta com um protesto ou coisa semelhante. “Atualmente o termo Vândalo é utilizado para identificar saques bárbaros e destruição, mas a conduta de tal povo não foi diferenciada dos hábitos dos povos antigos que também saquearam Roma, o que torna a utilização relativamente injusta[4].

    Além da depredação, destruição propriamente dita, parcial ou total, surgiu a pichação, a qual também é caracterizada como vandalismo, a qual afronta sem destruir. No entanto, a relação da palavra com sua origem não chega a ser clara em nossos dias, senão para estudiosos de História.

    Com este estudo resumido procuramos identificar o povo e os fatos que levaram à criação da palavra vandalismo, totalmente integrada ao nosso vocabulário e que permeia os noticiários. A criação de neologismos está em curso. É uma das características da dinâmica das ideias e das relações que ocorrem diariamente. Dos fatos aos símbolos é natural que as palavras encerrem ideias construídas coletivamente. Daí a destruição de obras de arte ser um ato de vandalismo, coisa inaugurada por um povo cuja história é tão ou mais dinâmica que outras tantas.

    Mesmo o termo Bárbaro recebeu significado diverso ao original, fruto desse mesma dinâmica que vemos na formação de expressões. Por outro lado, a dominação de Cartago, norte da África, se tornou um exemplo de estratégia militar sem o morticínio que caracteriza a humanidade nessas ações. Vandalismo poderia ter tido esse significado.


    5 REFERÊNCIAS


    Vândalos. Infopédia. Porto, Porto Editora, 2003-2011. Disponível em www.infopedia.pt/$vandalos. Acesso em 10 de abril de 2011.

    Vândalos. Wikipedia. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%A2ndalos. Acesso em 13 de abril de 2011.

    Vândalos. Infoescola. Disponível em http://www.infoescola.com/povos-germanicos/vandalos/. Acesso em 15 de abril de 2011.




    [1] Vândalos. Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2011. Disponível em www.infopedia.pt/$vandalos. Acesso em 10 de abril de 2011.
    [2] Vândalos. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%A2ndalos. Acesso em 13 de abril de 2011.
    [3] Op cit.

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