POR QUE SOU AGNÓSTICO (1)
INTRODUÇÃO
Há anos tenho me insurgido contra o pensamento cristão, como se houvesse um. Raríssimas vezes, uma ou duas, fui questionado do porquê eu seria um agnóstico, um ateu na prática. Então resolvi escrever, quem sabe alguém possa descer do pedestal e olhar essa discussão por um outro ângulo. Quem sabe...
No frigir das coisas acabo assumindo que me tornei um descrente nas expressões religiosas e na relação com deus. Notaste o ‘me tornei’? É preciso ter fé para ser ateu.
Na mistura que fazem dessas coisas é preciso deixar claro que não tenho qualquer possibilidade de comentar a existência ou não de deus. Está tão longe de mim que assumo total ignorância. Isso se contrapõe às convicções de quem é crente logo de início.
Há anos tenho me insurgido contra o pensamento cristão, como se houvesse um. Raríssimas vezes, uma ou duas, fui questionado do porquê eu seria um agnóstico, um ateu na prática. Então resolvi escrever, quem sabe alguém possa descer do pedestal e olhar essa discussão por um outro ângulo. Quem sabe...
No frigir das coisas acabo assumindo que me tornei um descrente nas expressões religiosas e na relação com deus. Notaste o ‘me tornei’? É preciso ter fé para ser ateu.
Na mistura que fazem dessas coisas é preciso deixar claro que não tenho qualquer possibilidade de comentar a existência ou não de deus. Está tão longe de mim que assumo total ignorância. Isso se contrapõe às convicções de quem é crente logo de início.
O caso é que vivo como se Deus não existisse, assim como todos. A diferença é que assumo, enquanto outros se iludem com rituais, textos e ideias que absorveram em momentos de fraqueza e não são capazes de desfraldá-las, de abri-las a si mesmos, de fazerem a mais simples das perguntas. Alguns mentecaptos chegam ao ponto de dizerem que fazem o que deus determina. Outros caem no ridículo de pinçarem o que lhes interessa de uma crença para formar sua própria crença.
Os textos sobre esse assunto, um possível ateísmo, serão divididos em capítulos para ser o mais didático possível. E neste primeiro pensarei com você sobre a fé, energia que nos faz não somente aceitar uma ideia, mas defendê-la com intensidade. Não trato da fé como escopo doutrinário ou conjunto de dogmas. Como preciso ser objetivo alguns detalhes ficarão de fora.
SOBRE A FÉ
Para o crente a fé é de tal monta que discuti-la beira a insanidade. A fé é o ato de crer, de dar existência interna a algo externo. É assumir que experiências de outros são verdadeiras, com ou sem comprovação. É aceitar como fato uma história. A Bíblia diz que “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem” (Hebreus 11.1). Seria dar como prova o fato de que eu creio. Ora, nada mais natural do que uma afirmação dessas num livro que trata de coisas etéreas. Minha fé nada pode provar!
A fé não deve ser discutida porque é pessoal e intransferível. Pensamos, analisamos, queremos respostas e daí surge a fé. É um subproduto da razão, um efeito colateral. É da razão que nos vem a fé. Mesmo a demência, que gera pensamos disconectos, mostra-se crédula. Ou já não te deparaste com um louco dizendo que é Jesus? Ou que tem pessoas à sua volta quando não tem nada? Ele está usando da fé naquilo que está claro em sua mente. Eis porque as tais visões comuns aos pentecostais parecem tão reais. Aliás, para ir dormir com tranquilidade é preciso ter fé que acordará bem. Em contextos de conflitos essa tranquilidade se perde porque a fé de que vai acordar bem estremece diante do que está à volta. A fé sucumbe tão logo a realidade aperte, se manifesta como anestesia ou torna-se a força. O comunismo ainda sobrevive porque há quem crê que seja a solução para nossos conflitos sociais. A fé não tem valor em si mesma porque pode, e é, depositada em toda a sorte de devaneios que os homens possam engendrar.
O objeto dessa fé é o foco da discussão. No que creio, como creio e para que creio está acima do ato de crer. Nisso reside muito da discussão infrutífera de religião. Como poucas pessoas têm clareza dessa dinâmica a confusão se instala. Não conseguem distinguir suas convicções do seu objeto. Além de achar que a coisa é um ataque pessoal. Sua fé é tal que não conseguem sequer ouvir um contraponto, mesmo que não tenham certeza do todo de sua doutrina. Por exemplo, que convicção pode ter alguém que se inicia no cristianismo, nos estudos da Bíblia? Há quem diga que vai uma vida e não se conhece a Bíblia. Então como posso defender o que jamais conhecerei plenamente? Em se tratando de texto sagrado a fé entorpece a razão. Nem o óbvio é distinguido. O clímax é dar legitimidade do objeto pelo ato de crer: creio, logo existe!
No caso de Deus eu não precisaria de fé assim como não preciso de fé para aceitar a existência de meus três filhos e de meus netos. A fé tem mais a ver com a dúvida do que com a certeza. A relação com deus deveria ser tão natural que nem se mencionaria a fé. Preciso de fé para aceitar a existência de Sócrates, Aristóteles ou Napoleão. Portanto, precisamos acreditar em Deus porque sua existência é subjetiva e sequer podemos saber quem é, de que deus estamos falando. Crer em deus é a antítese de sua existência. Em existindo, não preciso crer. Muito menos preciso sentir. Ora, quem diz que sente a presença de deus mostra a mais profunda fragilidade. Se sei que existe não preciso sentir!
Por fim, como há todo tipo de objeto de fé, aquilo em que se crê, não há como basear-se na fé, ato de crer. Cada um tem suas convicções e devemos discutir aquilo que está acima do pessoal, porque se há uma Verdade ela não pode ser pessoal. Também não posso aderir a uma fé porque alguém tem toda a certeza do mundo, pois essa certeza é dele, mas posso identificar aquilo que não aceito como doutrina. Houvesse uma fonte (Deus), haveria uniformidade de crenças ao longo da história humana. A realidade mostra claramente que cada cultura criou seu Deus, seus credos, seus rituais e os considera a mais absoluta verdade, além das que já deixaram de existir.
Fato mais recente, dada a liberdade no Ocidente, fica cada vez mais comum que pessoas adaptem conhecimentos gerais aos seus interesses. Estamos diante do crescimento vertiginoso do "acredito numa força superior do bem" e nada muito além disso.
O próximo texto (clique AQUI) será sobre doutrinas, dogmas ou princípios religiosos. Por que precisam existir, suas possíveis origens etc.
Abraço!
Os textos sobre esse assunto, um possível ateísmo, serão divididos em capítulos para ser o mais didático possível. E neste primeiro pensarei com você sobre a fé, energia que nos faz não somente aceitar uma ideia, mas defendê-la com intensidade. Não trato da fé como escopo doutrinário ou conjunto de dogmas. Como preciso ser objetivo alguns detalhes ficarão de fora.
SOBRE A FÉ
Para o crente a fé é de tal monta que discuti-la beira a insanidade. A fé é o ato de crer, de dar existência interna a algo externo. É assumir que experiências de outros são verdadeiras, com ou sem comprovação. É aceitar como fato uma história. A Bíblia diz que “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem” (Hebreus 11.1). Seria dar como prova o fato de que eu creio. Ora, nada mais natural do que uma afirmação dessas num livro que trata de coisas etéreas. Minha fé nada pode provar!
A fé não deve ser discutida porque é pessoal e intransferível. Pensamos, analisamos, queremos respostas e daí surge a fé. É um subproduto da razão, um efeito colateral. É da razão que nos vem a fé. Mesmo a demência, que gera pensamos disconectos, mostra-se crédula. Ou já não te deparaste com um louco dizendo que é Jesus? Ou que tem pessoas à sua volta quando não tem nada? Ele está usando da fé naquilo que está claro em sua mente. Eis porque as tais visões comuns aos pentecostais parecem tão reais. Aliás, para ir dormir com tranquilidade é preciso ter fé que acordará bem. Em contextos de conflitos essa tranquilidade se perde porque a fé de que vai acordar bem estremece diante do que está à volta. A fé sucumbe tão logo a realidade aperte, se manifesta como anestesia ou torna-se a força. O comunismo ainda sobrevive porque há quem crê que seja a solução para nossos conflitos sociais. A fé não tem valor em si mesma porque pode, e é, depositada em toda a sorte de devaneios que os homens possam engendrar.
O objeto dessa fé é o foco da discussão. No que creio, como creio e para que creio está acima do ato de crer. Nisso reside muito da discussão infrutífera de religião. Como poucas pessoas têm clareza dessa dinâmica a confusão se instala. Não conseguem distinguir suas convicções do seu objeto. Além de achar que a coisa é um ataque pessoal. Sua fé é tal que não conseguem sequer ouvir um contraponto, mesmo que não tenham certeza do todo de sua doutrina. Por exemplo, que convicção pode ter alguém que se inicia no cristianismo, nos estudos da Bíblia? Há quem diga que vai uma vida e não se conhece a Bíblia. Então como posso defender o que jamais conhecerei plenamente? Em se tratando de texto sagrado a fé entorpece a razão. Nem o óbvio é distinguido. O clímax é dar legitimidade do objeto pelo ato de crer: creio, logo existe!
No caso de Deus eu não precisaria de fé assim como não preciso de fé para aceitar a existência de meus três filhos e de meus netos. A fé tem mais a ver com a dúvida do que com a certeza. A relação com deus deveria ser tão natural que nem se mencionaria a fé. Preciso de fé para aceitar a existência de Sócrates, Aristóteles ou Napoleão. Portanto, precisamos acreditar em Deus porque sua existência é subjetiva e sequer podemos saber quem é, de que deus estamos falando. Crer em deus é a antítese de sua existência. Em existindo, não preciso crer. Muito menos preciso sentir. Ora, quem diz que sente a presença de deus mostra a mais profunda fragilidade. Se sei que existe não preciso sentir!
Por fim, como há todo tipo de objeto de fé, aquilo em que se crê, não há como basear-se na fé, ato de crer. Cada um tem suas convicções e devemos discutir aquilo que está acima do pessoal, porque se há uma Verdade ela não pode ser pessoal. Também não posso aderir a uma fé porque alguém tem toda a certeza do mundo, pois essa certeza é dele, mas posso identificar aquilo que não aceito como doutrina. Houvesse uma fonte (Deus), haveria uniformidade de crenças ao longo da história humana. A realidade mostra claramente que cada cultura criou seu Deus, seus credos, seus rituais e os considera a mais absoluta verdade, além das que já deixaram de existir.
Fato mais recente, dada a liberdade no Ocidente, fica cada vez mais comum que pessoas adaptem conhecimentos gerais aos seus interesses. Estamos diante do crescimento vertiginoso do "acredito numa força superior do bem" e nada muito além disso.
O próximo texto (clique AQUI) será sobre doutrinas, dogmas ou princípios religiosos. Por que precisam existir, suas possíveis origens etc.
Abraço!
Madre Tereza de Calcutá dedicou sua vida aos doentes terminais,palpérrimos,abandonados,excluidos etc,etc...com o olhar de que cada um,era o próprio "Ser" disfarçado.Em seu diário,e em cartas que escrevia para amigo padre...revelou suas dúvidas em relação da existência da alma e de "Deus".Mesmo assim continuou com seu sorriso,que escondia o seu vazio...,antes de morrer,pediu perdão por se sentir em gde dúvida.
ResponderExcluirVós sois deuses e esquecerdes disso? D'eus=todo o universo (os vários eus em um só).
ResponderExcluirAlvaro Arns
Sobre o assunto leia meu livro " Abstração..." que enviei pelo correio ontem.Gostaria de receber sua opinião.ADAIR FERNANDES
ResponderExcluirNão concordo que a fé seja... Dar existência interna a algo externo. No meu ponto de vista, FÉ é... Dar existência interna a algo interno. Fundamento minha opinião no fato de acreditar que a FÉ é o ato de crer no abstrato, crer na certeza de que existe algo mais poderoso e mais forte do aquilo que podemos ver e tocar.
ResponderExcluirUm pouco confuso sob a minha ótica, mas 100% correto na fundamentação. Entretanto me parece que sua posição está mais para agnóstico do que para ateu. Um excelente trabalho sob como as religiões são perniciosas está no youtube sob "a ilusão de Deus" do biólogo inglês Richard Dawkins. Podes acessar em http://www.youtube.com/watch?v=Kxbw6UeIPfc
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