A MAÇONARIA POR UM PROFANO
Quando o editor deste informativo, meu querido amigo Pedro
Barcelos, pediu-me um artigo percebi que deveria pesquisar sobre a Maçonaria.
Ao mesmo tempo disse que seria um “profano falando da maçonaria”. E, confesso,
a palavra “profano” me é muito mais atraente que “sacro”. Assim, decidi por
escrever sobre o pouco que JÁ sei. Em momento algum haverá de minha parte
qualquer desafio ou crítica maldosa. Apenas uma visão limitada, uma visão
distante, misturada com o que penso dos traços de divindade.
Este texto foi publicado na revista "Entre Colunas - Informativo Maçônico" |
Aos 17, em 1984, fui para São Paulo estudar teologia na
Faculdade Teológica Batista de São Paulo. Não concluí porque as perguntas em
minha mente foram mais fortes que o que os estudos puderam me dizer e não sabia
lidar muito bem com as frustrações. Em 1987 participei da Cruzada Estudantil e
Profissional para Cristo e por seis meses estive dentro da favela do Parque das
Américas, Mauá/SP. Casei-me em 1988 sem “um puto
no bolso” e a primeira compra no mercado foi a troca de alimentos por uma
máquina de etiquetar preços que achei nas tralhas da garagem de meus pais.
Filhos e responsabilidades, desespero por ser o provedor, vivemos na pobreza
por muitos anos. Casamento em conflito e orações intermináveis pedindo paz
dentro de casa. Não pedia nada além de paz. Tais experiências foram
significativas para fortalecer meu ceticismo quanto a qualquer fé que pudesse
ter num Deus. Mesmo assim, movido pela dúvida e crendo que o problema era eu,
segui cristão até meus 33 anos, no meio evangélico, onde maçons eram seres
diabólicos.
Assim, entre tantas curiosidades a respeito da fé, por me
achar o problema, li o que pude sobre as mais variadas manifestações de crença
e os mais diversos deuses engendrados pela criatividade humana. Nesse sentido
tenho a Maçonaria como mais uma entre milhares de crenças. Mais uma que espelha
o vazio que são as expressões que colocam um Deus no centro. Contudo, havia algo
mais humano na Maçonaria, diferentemente das demais expressões.
No meu raso conhecimento, e volto a dizer que sou um de fora
e posso dizer bobagens dignas de desprezo ou risadas, percebi a diferença e
singularidade da Maçonaria. Os maçons teriam surgido dentre o que atualmente
seriam os arquitetos e engenheiros. Por isso, transitavam entre os principados,
reinos e quaisquer formas de domínios tiranos ou políticos europeus, a fim de
servirem na construção de fortalezas, castelos, dentre outras edificações que
servissem aos interesses do poder. Para que mantivessem seus conhecimentos
seguros e exclusivos teria surgido a ideia de que quem divulgasse suas
informações pagaria com a própria vida. Imagino que, como vejo nas demais
expressões de fé, os rituais foram surgindo até cristalizarem-se no que é hoje.
Desconheço completamente como desenvolveram a ideia de que Deus seria algo como
um arquiteto.
Na minha ignorância, vendo o compasso e o esquadro na imagem
que usam para identificar a Maçonaria, não consigo supor Deus como um arquiteto
– o Grande Arquiteto. Tal profissional estuda para propor soluções aliadas à
beleza da obra: estética e funcionalidade. E Deus, me perdoem a ousadia, ao
propor o mundo em que vivemos, mostra-se um desleixado, um preguiçoso, um ser
totalmente desorganizado. Imaginar Deus como um arquiteto soa de tal forma
ridículo que só posso reputar isso à recorrente e natural ignorância dos
humanos em seus primórdios.
Na minha máxima estupidez desconheço a presença de Deus em
qualquer coisa. Mas nada é tão ruim que não possa pior, dizem alguns. Não há
razão alguma para existirmos, quanto mais para qualquer tipo de adoração. Deus,
o Criador, se basta em si mesmo e, como tal, não precisaria de criação alguma.
Aqui trava-se o mais básico dos nossos delírios existenciais. O Criador,
perfeito, e o nada, são a mesma coisa, haja visto que se precisasse de algo
deixaria de ser o Todo-Poderoso. Ele, por ele, para ele e só. Ou seja, a criação
do mundo revela-o carente. Pior, ser cultuado revela-o carente de atenção como
um bebe amamentando. Como, por tudo que possa ser sagrado, podemos supor que
Ele precise de alguma coisa? Mas, como arquiteto, que remete a alguém que
planeja e organiza, vem-me à mente ainda mais desespero tal a fragilidade de
quaisquer crenças, sempre limitadas, com respostas humanas e explicações que
servem como anestésicos à realidade. O medo da morte e a finitude da vida
explicam mais que zilhões de livros.
Assim, para mim, a Maçonaria não faz sentido algum. É mais
um arremedo humano sobre o que um grupo de homens gostaria que existisse,
satisfazendo seus egos como mediadores de “verdades” ocultadas aos comuns.
Sentir-se privilegiado em conhecimentos massageia o ego cristalizado nos
estágios que cada um pode almejar, elevando-se de iniciado à mestre grau mil. Deveras todas as expressões de uma
suposta divindade seguem os mesmos passos, uma mesma estrutura a refletir os
homens e as hierarquias que dividem cegos, iniciados e iluminados.
Hierarquia no conhecimento divino mostra a fragilidade da
coisa crida. O conhecimento Dele deveria ser pleno em todos os tempos e
lugares. Afinal, é Ele que se daria a conhecer, não revelado em nossa busca em
conhece-lo. É Ele que se revela, não eu que o descortino. O Superior determina
o que o inferior saberá. Quando um sabe mais que outro Ele errou em revelar-se,
ou desgraçadamente, foi seletivo. Um Deus sectário me parece diabólico!
É o que percebo, é o que alcancei das nossas humanidades.
Aos amigos maçons que tenho reputo qualidades de homens
bons, comprometidos com valores sociais dignos. E o são como outros de outras
crenças, sem privilégios que o conhecimento possa auferir.
Abraço profano!
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