QUANDO UMA UNIVERSIDADE ESTÁ EM OUTRO MUNDO
Segue o que foi proposto para discussão num fórum de uma universidade e a resposta que ousei dar.
A questão levantada para análise difere em essência do texto da Unicamp. Ao remeter à "libertação do homem quanto às necessidades básicas de sobrevivência" o texto trata de mercado, o qual não depende regionalmente da pesquisa científica, mas das transações comerciais e da capacidade de logística. Uma pesquisa feita nos EUA, pode ser produzida, como geralmente é, na China, e de lá distribuída para o mundo. A pobreza não está ligada à ausência pesquisa científica, mas ausência de mercado, ou, impeditivos que o façam expandir. O exemplo está dentro de nossas casas. Nossas condições de vida melhoram, ficamos mais confortáveis, com eletrodomésticos, eletrônicos e assemelhados. Tudo o que temos hoje não remete a descobertas, ou desenvolvimento tecnológico, no Brasil. Uma ou outra adaptação sim. Fica evidente que "Os povos que não participam do desenvolvimento científico estão, em grande medida, alijados dos avanços..." é uma premissa falsa. O que faz os povos não terem acesso é a não liberdade de mercado, como na Coréia do Norte, ou mergulhados em guerras civis, como na Somália.
Em relação à proposição "Qual a importância da pesquisa acadêmica e dos relatórios científicos para o desenvolvimento da ciência?" é o mesmo que perguntar qual a importância da bola para o futebol. Ora, existe desenvolvimento da ciência sem pesquisa? Não. Feita a pesquisa precisa fazer um relatório? Por óbvio que sim. Contudo, a realidade nos dá outra informação que depõe contra o louvor à pesquisa acadêmica, como se ela fora a única forma, ou principal. Os relatórios do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, mostram claramente que as universidades perdem em muito para a iniciativa privada no registro de patentes (fruto de pesquisa, científica ou não). O melhor dos exemplos é a 3M que supera em muito qualquer empresa ou universidade nesse sentido no mundo. Os EUA registraram 27%, contra 26% do Brasil, no INPI entre 2006 e 2015. Nesse período São Paulo registrou 41,7% e Santa Catarina apenas 7,6% das patentes, fruto da atividade industrial de cada Estado. Em 2015, por exemplo, apenas 4,7% dos registros foram de pesquisas científicas (sic). Precisa dizer mais? Precisa!
Outro destalhe importante dá-se quanto a afirmação "carências advindas da dificuldade que essas sociedades têm em criar riquezas sem o insumo principal para isso, que é o conhecimento". Ora, meus caros, conhecimento se transfere, se contrata profissionais etc. Foi o que fez Singapura. Contratou os professores do colonizador Império Britânico ao se emancipar em 1963 e tornou-se uma potência. Não perderam tempo com o ufanismo do discurso de identidade nacional etc etc etc.
Enfim, lamento ser realista, mas nossas universidades não são referência em pesquisa. As empresas o são. Principalmente os laboratórios farmacêuticos. Isso não depõe contra a pesquisa em si, mas, retornando ao texto da Unicamp, revela uma visão absolutamente distorcida do que seja ser um povo subalterno ao outro, já que a produção de um bem não gera riqueza sem o mercado (consumidor), o que remete à interdependência.
UM PAÍS COM CIÊNCIA OU APENAS UM PAÍS COM CIENTISTAS?
“Com o avanço das fronteiras do conhecimento humano, a ciência proporciona aos povos que participam de fato de seu desenvolvimento melhor qualidade de vida. Isso é alcançado mediante libertação do homem quanto às necessidades básicas de sobrevivência e da consequente sofisticação da atividade humana em seus aspectos sociais, econômicos, culturais e artísticos. Em última instância, fazer ciência é viver na plenitude a aventura do homem sobre a Terra. Os povos que não participam do desenvolvimento científico estão, em grande medida, alijados dos avanços nos padrões de qualidade de vida e são economicamente subalternos em relação aos povos que lideram os avanços do conhecimento. Reverter esta situação não é tarefa fácil já que criar uma cultura científica exige inúmeros investimentos em educação e cultura, o que é agravado pelas carências advindas da dificuldade que essas sociedades têm em criar riquezas sem o insumo principal para isso, que é o conhecimento. Encontrar modos de romper esse círculo vicioso é o grande desafio das sociedades dos países em desenvolvimento como o Brasil.” (UNICAMP, 2002)*.
Miséria é fruto da ausência de capitalismo, ausência de mercado |
Orientação
A partir da leitura (...) elabore uma reflexão pessoal que contemple a seguinte ideia:
Qual a importância da pesquisa acadêmica e dos relatórios científicos para o desenvolvimento da ciência?
Resposta:A questão levantada para análise difere em essência do texto da Unicamp. Ao remeter à "libertação do homem quanto às necessidades básicas de sobrevivência" o texto trata de mercado, o qual não depende regionalmente da pesquisa científica, mas das transações comerciais e da capacidade de logística. Uma pesquisa feita nos EUA, pode ser produzida, como geralmente é, na China, e de lá distribuída para o mundo. A pobreza não está ligada à ausência pesquisa científica, mas ausência de mercado, ou, impeditivos que o façam expandir. O exemplo está dentro de nossas casas. Nossas condições de vida melhoram, ficamos mais confortáveis, com eletrodomésticos, eletrônicos e assemelhados. Tudo o que temos hoje não remete a descobertas, ou desenvolvimento tecnológico, no Brasil. Uma ou outra adaptação sim. Fica evidente que "Os povos que não participam do desenvolvimento científico estão, em grande medida, alijados dos avanços..." é uma premissa falsa. O que faz os povos não terem acesso é a não liberdade de mercado, como na Coréia do Norte, ou mergulhados em guerras civis, como na Somália.
Em relação à proposição "Qual a importância da pesquisa acadêmica e dos relatórios científicos para o desenvolvimento da ciência?" é o mesmo que perguntar qual a importância da bola para o futebol. Ora, existe desenvolvimento da ciência sem pesquisa? Não. Feita a pesquisa precisa fazer um relatório? Por óbvio que sim. Contudo, a realidade nos dá outra informação que depõe contra o louvor à pesquisa acadêmica, como se ela fora a única forma, ou principal. Os relatórios do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, mostram claramente que as universidades perdem em muito para a iniciativa privada no registro de patentes (fruto de pesquisa, científica ou não). O melhor dos exemplos é a 3M que supera em muito qualquer empresa ou universidade nesse sentido no mundo. Os EUA registraram 27%, contra 26% do Brasil, no INPI entre 2006 e 2015. Nesse período São Paulo registrou 41,7% e Santa Catarina apenas 7,6% das patentes, fruto da atividade industrial de cada Estado. Em 2015, por exemplo, apenas 4,7% dos registros foram de pesquisas científicas (sic). Precisa dizer mais? Precisa!
Outro destalhe importante dá-se quanto a afirmação "carências advindas da dificuldade que essas sociedades têm em criar riquezas sem o insumo principal para isso, que é o conhecimento". Ora, meus caros, conhecimento se transfere, se contrata profissionais etc. Foi o que fez Singapura. Contratou os professores do colonizador Império Britânico ao se emancipar em 1963 e tornou-se uma potência. Não perderam tempo com o ufanismo do discurso de identidade nacional etc etc etc.
Enfim, lamento ser realista, mas nossas universidades não são referência em pesquisa. As empresas o são. Principalmente os laboratórios farmacêuticos. Isso não depõe contra a pesquisa em si, mas, retornando ao texto da Unicamp, revela uma visão absolutamente distorcida do que seja ser um povo subalterno ao outro, já que a produção de um bem não gera riqueza sem o mercado (consumidor), o que remete à interdependência.
*UNICAMP. Desafios da pesquisa no Brasil: uma contribuição ao debate. São Paulo Perspec., São Paulo, v. 16, n. 4, p. 15-23, out. 2002 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392002000400004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 17 out. 2017.
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