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    A DESCOBERTA DO NOVO E AS UNIVERSIDADES

    Por que precisamos de faculdades e universidades? O que queremos e o que não queremos do ensino superior? Bem, tive que ler um texto de Cipriano LUCKESI, "Fazer universidade: uma proposta metodológica" (1998), como parte dos estudos da disciplina de Metodologia Científica e da Pesquisa do curso de Direito da UNESC, matéria comum dos muitos cursos dessa universidade, que tratou da segunda questão. A primeira... Bem, reside basicamente nas exigências de mercado.

    O autor faz uma análise da história da formação do ensino superior e aponta para uma suposta nova postura mais inquisidora de que precisaríamos. Na visão de Luckesi é preciso mais diálogo e mais senso crítico e assim um ambiente mais propício para a pesquisa. Tudo muito bom não fosse um detalhe: os estudantes querem?

    Eis o que escapou do texto apresentado pelas tutoras: poucos universitários têm interesse em pesquisas. Ou, o texto não apresentou dado algum que apontasse que desejam esse tal ambiente mais livre. A vasta maioria, ouso dizer, quer saber o suficiente para tirar boas notas nas provas, acabar logo com tudo e ganhar sua grana no mercado ou passar em concursos públicos. Nada contra isso!

    Falo baseado nas muitas conversas que tive com professores de faculdades ao longo de anos e com expoentes nalgumas profissões sobre os tempos de academia. É absolutamente comum que digam a mesma coisa, que dois ou três se destacam. A aterradora realidade dos nossos jovens é apresentada em pesquisas do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), do Instituto Paulo Montenegro (IPM), e pela ONG Ação Educativa. Nessas pesquisas "uma matemática simples leva à conclusão de que quase 80% dos universitários brasileiros não atingiram o nível ideal de alfabetização. Isso é diferente da definição clássica de analfabetismo funcional. Mas, como os números evidenciam, a situação é ruim", diz em matéria da Gazeta do Povo de 30 de Maio do ano passado que você lê na íntegra AQUI.

    O mais incrível é o que está no boletim do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) de Janeiro de 2018 sobre o anos de 2017 (negrito meu):
    PATENTES DE INVENÇÃO - No acumulado janeiro-dezembro de 2017, entre os 5.480 depósitos de residentes, destacaram-se: pessoas físicas (2.575 depósitos ou 47%); instituições de ensino e pesquisa e governo (1.307 ou 24%); empresas de médio e grande porte (970 ou 18%) e MEI, microempresa e EPP (495 ou 9%). As demais categorias apresentam menor participação: associações e sociedades de intuito não econômico (129 ou 2%) e cooperativas (4 ou 0,1%).
    DESENHOS INDUSTRIAIS - No acumulado janeiro-dezembro de 2017 foram efetuados por parte dos residentes 3.532 depósitos de desenhos industriais, destacando-se as seguintes categorias: pessoas físicas (1.402 pedidos ou 40%); empresas de médio e grande porte (1.290 ou 37%) e MEI, microempresa e EPP (753 ou 21%). Outras categorias apresentaram menor participação: instituições de ensino e pesquisa e governo (65 ou 2%); associações e sociedades de intuito não econômico (20 ou 0,6%) e cooperativas (2 ou 0,1%).
    PROGRAMAS DE COMPUTADOR - No acumulado janeiro-dezembro de 2017, entre os 1.686 depósitos de programas de computador efetuados por residentes no Brasil, destacaram-se: instituições de ensino e pesquisa e governo (506 pedidos ou 30%); pessoas físicas (377 pedidos ou 22%); empresas de médio e grande porte (375 pedidos ou 22%); MEI, microempresa e EPP (242 pedidos ou 14%), associações e sociedades de intuito não econômico (184 pedidos ou 11%) e cooperativas (2 pedidos ou 0,1%).
    Os EUA registram mais pedidos no INPI que o próprio Brasil
    (Fonte: INPI)
    Esses números mostram claramente que a universidade não é a maior produtora de conhecimento no Brasil. Aliás, como ambiente cuja estrutura exige pesquisa, diferente dos demais, esses dados a colocam num patamar vergonhoso, ao menos na minha avaliação. Ficamos, assim, entre o que diz um renomado pesquisador, o que dizem professores e estatísticas desanimadoras.

    Cipriano Luckesi parte da ideia de que as nossas faculdades e universidades não propiciam o ambiente ideal ao senso crítico e que deveríamos buscar tal coisa. De onde saiu isso? Ele não diz, então, posso divagar. Estudantes podem participar das aulas fazendo perguntas? Podem. Os estudantes podem buscar outras fontes de informação além das sugeridas pelos professores? Podem. Os estudantes podem encontrar-se por iniciativa própria para trocarem informações? Podem. Creio que esteja respondido. Ou o pesquisador está absolutamente correto e, ao invés de promoverem conhecimento, estão, digamos, deitadas em berço esplêndido.

    Finalizando. Onde está o problema? Na minha modesta visão está na forma como fomos criados, na cultura social e familiar. Não há, para onde quer que olhemos, um "culto ao conhecimento". Pelo contrário, cultuamos o atalho, a cola, a cópia, o jeitinho e a nota como objetivo. Nossos estudantes são apenas reflexo disso. Os dados do INPI apontam claramente que a profusão de conhecimento se dá, em sua vasta maioria, pela necessidade de mercado e do simples desejo individual de criar algo novo. Porém, a única forma de mudar, se é que se quer mudar, está na própria atitude de quem ingressa no mundo acadêmico, inclusive do professor em mostrar tesão pelo conhecimento em sua atitude, vibrando com cada descoberta e não na passividade de quem se arrasta esperando o tempo passar.

    Tenho dito!

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