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    NA HORA DO SUFOCO CORRE PARA DEUS

    É muito comum, numa discussão entre teístas e descrentes (pelo menos da ideia recorrente sobre o que seja Deus ou um tal Deus específico), aparecer um ser, achando-se na condição de dizer algo profundo e inquestionável, larga que "NA HORA DO SUFOCO CORRE PARA DEUS!". Esta probabilidade é real e não se descarta por ser absolutamente pessoal. Entretanto, permitam-me discorrer sobre essa filosofada, profunda feito um pires, de quem corre para Deus na hora do sufoco.

    Na hora do sufoco estamos frágeis e nossa ânsia por salvação vai depender do quanto estamos conscientes da finitude da vida ou do quanto estamos apegados à esta existência. Decorre disto, desse apego, que os religiosos são, de um modo geral, justamente os que têm maiores dificuldades de relacionarem-se serenamente com a morte. Daí sua neurose, beira a isso sim!, por milagres, orações, igrejas, santos, materiais "ungidos" e tudo o mais que possa gerar algum sentimento de segurança, mesmo que não haja, como não há mesmo. Se há um ser com medo do sofrimento e da morte esse tal é o religioso. Evidente que sentimentos de culpa, medo do inferno e coisas assim permeiam a religiosidade. Certa vez um senhor me disse que clamou a Deus para não morrer diante de grave doença porque não se sentia preparado. Daí a dúvida: vai se matar quando se sentir?

    Que garantias há que, na hora do sufoco, o vitimado recorra ao Deus certo? NENHUMA! Certamente recorrerá ao que sua cultura disse ser o único, o verdadeiro. Muito mais pressionado a isso se entre seus entes mais próximos estiver um carola. A diversidade de deuses é tal que Jesus é apenas mais um, assim como Jeová, Alá, Shiva, Krishna e demais que a inventividade humana concebeu e conceberá.

    Semelhante à culpa, coisa básica do cristianismo, está a ideia de evolução do espiritismo kardecista. Ora, assim como o cristão atesta que nascemos culpados, coisa absolutamente bestial, os seguidores de Kardec acham-nos menores numa escala espiritual. Sim, se estamos aqui é porque ainda não chegamos naquele status de seres superiores e, portanto, ainda encarnamos. Basta ver a história da humanidade que tal ideia se desmancha feito bejú na água.

    Pense, se tenho crido e esta fé me faz um ser correto, qual seria o medo de enfrentar as adversidades e a morte? Não seria de nem correr para Deus, mas de simplesmente esperar. Sequer faz sentido orar. Que relacionamento é esse, com um ser Absoluto, que precisaria falar do mesmo problema repetidas vezes? A incoerência é tal que caem na vala comum do mal uso do cérebro.

    Há ainda um aspecto que mostra a absurda má vontade de lidar com momentos difíceis comuns à vida de todos nós. Note que os religiosos não deixam de correr para o hospital na doença, não deixam de correr para a Justiça se vitimados, não deixam de reivindicar melhorias governamentais. Ou seja, se, por um lado o descrente correria (numa hipótese) para Deus, o crente efetivamente corre para os braços mais humanos possíveis. Quem é o incoerente e medroso nessa questão?

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