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    PENSO, LOGO DIZEM QUE SOU ATEU

    Lendo o livro O Filósofo Ignorante, de François-Marie Arouet, o Voltaire, deparei com a seguinte frase: "Gassendi e Descartes foram chamados de ateus porque raciocinavam". É bom lembrar que Voltaire não era ateu, pelo que sei, e defendia a Santa Sé. Digo isso porque penso sobre a fé religiosa. Vamos a alguns exemplos.

    Quando me dizem "Deus é amor" eu me deparo com vários aspectos da vida para que possa identificar este amor. Ora, amor, nesse contexto, é algo que se revelaria na vida. Um homem, quando diz que ama sua mulher, vai manifestar isso de alguma forma, de presentes a ações que a beneficiem. Pais que amam seus filhos dedicam-se a eles para que tenham conforto com disciplina. Contudo, olhando para a humanidade, ao longo da história, não consigo ver esse Deus de amor. Diriam alguns que Deus mostra o caminho, mas o homem é rebelde e segue seus próprios desejos. Faria sentido se os seguidores dessa ou daquela fé tivessem imensa vantagem sobre outros, coisa que não se confirma.

    Quando me dizem que "só Jesus salva" fico cá imaginando o porquê de haver um salvador. Não seria Deus suficiente para dar conta do assunto? Como explicam a necessidade de um ritual, conhecido por um grupo limitado ao longo do tempo, com vistas à perpetuação do ser em local melhor do que desta vida? Não explicam porque partem do princípio de que estamos fadados ao inferno independentemente do tipo de vida que levamos, haja vista ser algo relativo ao simples ato de crer. Isso fica claro no caso do ladrão da cruz, que, ao reconhecer Jesus como salvador, teve a garantia de salvação sem ter que voltar e reparar os malefícios praticados. Que Deus é esse que precisa de mecanismo submissos às iniciativas humanas, como a propagação da Bíblia, para que outros seres humanos tenham a opção de salvarem-se? E a coisa fica ainda mais complexa quando dizem que os que não chegaram a ouvir desse salvador serão julgados segundo seus atos. Como uns podem salvarem-se por seus atos e outros por sua crença?

    Quando me dizem que "a Bíblia é a vontade de Deus" tento imaginar como funciona isso, já que o Ser Supremo colocar sua vontade em um livro é o mesmo que limitá-lo. Ainda mais num livro que gera mais confusão que esclarecimentos, haja vista as tantas e recorrentes divergências entre seus seguidores. Como dizem que as divergências são fruto da ignorância humana ao distorcer seus escritos, muito mais estranho me parece. Fica claro que, ao divergirem entre si, um pensa do outro: "ele está torcendo a verdade!". Neste particular vejo que o Criador não tem muito interesse em aplacar a fúria humana de manipular seus ensinamentos e os crentes seguem acreditando que, cada um do seu ponto de vista, recebem a revelação do Espírito Santo. Que revelação é esta (a Bíblia) que precisa de outra revelação para ser entendida? E que Espírito é esse que precisa que domingo após domingo o povo tenha que ouvir explicações do que seja a revelação inicial? A Bíblia seria uma revelação que precisa do Espírito Santo para ser revelada, mas que precisa do pregador para explicar tudo isso... Acima de tudo está o imponderável, de que Deus teria vontade. Puxa, só tem vontade quem tem algum tipo de carência. Vontade é desejo e desejo é a necessidade de alguma coisa. Algo incompatível com um Ser que se basta a si mesmo.

    Pois bem, sigo com a pecha de ser ateu apenas, e tão somente, porque penso.

    3 comentários:

    1. Algo mais sobre a fé, André:
      Ontem, zapeando por tediosos canais na tentativa de assistir algo interessante deparei-me com o representante mor de deus nas designações ditas evangélicas... o sr Edir Macedo.
      Falava ele q o amor de deus não é igual ao nosso...humildes mortais...nãão...o amor de deus é diferente. "Não basta amá-lo...o amor de deus cobra-nos fé" dizia ele.
      O que "agrada" de fato deus é o qto um fiel possa provar isso. Neste ponto eu já estava espumando..mas, mesmo correndo risco de morte continuei ali até ouvir a pérola. "a única moeda( é moeda) de troca ( escambo divino, legal..um escambau) com jesus (ou deus???) é a fé". Por isso a importância de viver a "igreja" e ajudar a "edificá-la" . Antes q ele passasse a sacolinha, sai.

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      1. Um Deus que faz trocas caracteriza todas as religiões e igrejas. Não há Deus que não exija algo em troca, seja fé, seja dinheiro, seja sacrifícios. Ou seja, ou ele não é Deus (ser absoluto que a si mesmo se basta) ou nada sabemos dele (coisa mais plausível).

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    2. Não foi intencional caracterizar o "escambau"...como sendo prática reservada aos evangélicos..longe...bem longe disso. Tua obs vem oportunamente Roldão... para q não me crucifiquem. Abçs

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