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    SOBRE A FÉ

    Sobre esse lance de achar que a Fé faz realizar o impossível. Não existe realizar o impossível. Só se realiza o possível, obviamente. Pois se foi realizado é porque era possível. A diferença é que uns acham impossível algo plenamente possível. Ora, sem uma tecnologia, além das disponíveis até o momento, é impossível um homem atravessar a nado o Atlântico. O Canal da Mancha é para uns raros. Para dar um pequeno exemplo de impossível. E continua impossível ao homem voar sem tecnologia!!!

    Vamos ao ponto. A fé é uma atitude pessoal. E se essa fé tem o ingrediente de uma relação com Deus estamos diante, não de uma solução, mas de um problema. Se Deus retorna conforme a fé depositada seria como uma troca, um negócio, estabelece uma proporção, impõe um ''valor'' e torna o divino dependente de uma ação humana. Achar que ele nos dá conforme nossa fé remete a um Deus sem misericórdia. Nós fazemos assim, entregamos conforme o que nos é pago. A exceção é de quando estamos apaixonados e fazemos coisas desproporcionais. Entretanto, tão rápido quanto vem, a paixão se vai, justamente porque começamos a estabelecer uma proporção: dar conforme recebemos etc. Além disso, paixão é boa porque dá prazer emocional. Dizer que Deus nos dá nessas condições é humanizá-lo. Bem, pode ser que ele não seja o Bem que supomos ser, que seja tão ''humano'' quanto somos. Daí muita coisa faria sentido.

    Ora, a misericórdia que se supõe que Ele tenha, remete a um Deus que nos ajudaria independente de nossa atitude em relação a Ele - é assim que misericórdia funciona: receber sem merecer ou dar sem ter algo em troca. A fé, sendo posta como critério para recebimento de algo contraria a misericórdia e a transforma numa moeda de troca. Recebemos conforme depositamos (a fé)! 

    Como a desgraça humana grassa, prefiro pensar que a relação com Ele e nada é a mesma coisa, já que estabelecer uma relação direta com Deus, como se fosse pessoal, é tornar a tantas gentes alvo de sua fúria. Ou, na pior das hipóteses: alguém se julgar superior aos demais para Dele receber alguma coisa muito boa que para outros não seja dada. Sob qualquer dos ângulos de vista há romantismo, visão desprovida de consistência e de análise dos fatos à volta. Há um desejo meramente pessoal, coisa muito comum.

    Ao depositarmos nossa fé supomos que ela esteja na conta certa. E aí caímos na vala das tantas opções. Que Deus cremos? Seria esse o Deus correto? Que garantias temos que estamos com o Deus verdadeiro? Que garantias temos que o que recebemos não seria apenas um contingente da vida, afeto aos arranjos sociais e às nossas possibilidades? Por que uns recebem benesses e outros não? Por que as benesses em geral estão ligadas ao estilo e possibilidades construídas pela sociedade?

    Enfim, nada disso é o que quem diz algo como "A fé em Deus nos faz crer no incrível ver o invisível e realiza o impossível..." pensa ser verdadeiro. Ou, ainda mais ingênuo: "O importante é a fé!"

    Não estabelecer um padrão é crer que haja um Deus para cada ponto de vista e, convenhamos, não foi para isso que Deus nos deu a capacidade de pensar. O padrão que vejo é o da total inexistência de um Deus que interage com os seres humanos. Ou, se interage, não é constituído se sentimentos superiores aos nossos, sendo um ser ''raivinha'', sectário e que joga conosco à semelhança dos homens mais sórdidos.

    É preciso crer para receber? Que Deus nojento!

    Um comentário:

    1. Parabéns, André, por este coerente post, tchê!!! Concordo em "gênero, número e grau" no que dizes quanto às realizações do impossível pela fé. Realmente, ter fé, pensamentos e atitudes positivas que nos encorajam para vencermos os obstáculos é legal. Mas, como bem disseste, se esta fé for em "Deus", estamos diante de um baita problema, tchê!!! Abraços do Betinho Gaúcho.

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