AUTÊNTICO É SER FALSO
Qual a distância entre ser autêntico e se adaptar ao que os
outros esperam dos outros? Deve ser a mesma que há entre importar-se ou não com
o que os outros pensam.
Muito bem. Ser autêntico é o cara ser ele mesmo? Sim, mas
esse ser ele mesmo pode ser muito ruim, inclusive para consigo. Os pais educam
seus filhos, impõe-lhes regras e disciplina justamente porque se a criança for
ela mesma será um desastre na maioria dos casos. Sem educação podemos ser uma
coisa mal formada, indisciplinada, de péssimos hábitos. Dependerá da pressão
externa. Os pais, a família, os amigos e a sociedade como um todo é a pressão
externa. Basta ter um emprego qualquer e logo vamos perceber que, para
manter-se nele, muita coisa em si mesmo deverá ser reprimida ou expandida, por
exemplo.
Enfim, ser autêntico seria, no máximo, ser falso para
agradar conscientemente? Em certo sentido sim! Há ainda um belo ingrediente da imagem distorcida no
espelho. Vemos o que somos, o que gostaríamos de ser ou o que achamos que os
outros veem? Não tenho dúvidas que a terceira opção é a mais comum – mera intuição.
Somos seres sociais e como tal temos relações com as demais
pessoas à volta e isso significa influências mútuas. Neste sentido quando um
sujeito diz que não se importa com o que os outros dizem, penso: “Ora, se não
se importasse nem teria o trabalho de dizer isso.”
É fato incontestável que nos importamos com as pessoas à
volta, queremos criar uma imagem admirável e conquistadora. Negar isso é fruto
de uma coisa, ao meu ver: “O que ele disse me arrasou, mas preciso demonstrar
que não me atingiu!” Evidente que há relevâncias nesse contexto. Umas opiniões
pesam mais que outras, dependendo de quem a emite. Além disso, conforme quem
fala mal é bom. Há pessoas que de tal forma comprometeram sua credibilidade que
ao falarem mal de alguém sugerem que esse alguém seja pessoa muito boa.
Hipocrisia dos que dizem não se importar e ser autêntico?
Não creio. Está mais para não se aperceber dessa relação e ter dificuldade de
aceitar a condição humana tal como é.
Talvez o mais autêntico nesse processo, por conta do ofício,
seja o político, pois reconhece a necessidade de uma imagem, no mínimo,
agradável, mesmo que falsa. Por outro lado conheci políticos sem receio de
brigar com quem quer que seja. Mais, no comércio somos atendidos por quem quer apenas dinheiro e são simpáticos(as), nos tratam bem e, não somente gostamos disso como exigimos que seja assim.
E o que os outros esperam de mim e de ti? Bem, faz-se
necessário pesar na balança. Todos dependemos de outros. Ninguém sobrevive
sozinho e ninguém é sempre bom, tampouco sempre mal. Amadurecemos ao reconhecer
os erros e ao ter clareza no que precisa ser mudado. Porém, ninguém vai mudar
seu jeitão, no máximo disciplinar. Um cara falante pode, no máximo, frear-se em
dado momento, mas jamais deixará de ser falante.
É uma guerra de egos incrível.
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