EFEITO COLATERAL
Não há entre os mamíferos, mais facilmente observáveis, qualquer atitude de culto ou reverência. O único animal que se presta ao culto de entidades não-humanas, ou a postular uma suposta vida não-carnal, é o homem.
Tudo isso nos remete à razão, ou ao ato de pensar. Porque parece natural que a concepção religiosa está ligada ao pensamento mais complexo que nos diferencia de uma besta. De outro extremo podemos observar que doenças degenerativas do cérebro tiram imediatamente a noção de fé. Os acometidos por síndrome de Down, por exemplo, também são incapazes de evoluir nesse campo da crença em “outro mundo”.
Crer parece ser algo aprendido, como quase tudo na vida em sociedade, tanto que as religiões são basicamente produções culturais já que elas estão concentradas em populações bem definidas e a mistura, digamos, se dá pela interatividade intercultural. Cremos somente no que nos foi ensinado no transcorrer da vida. No Brasil nascemos cristãos, por assim dizer. Nada além. Portanto, a espiritualização da existência passa pelo ato de pensar, da informação recebida e não de algo que transcende a isso.
Mais além, sou categórico em afirmar que a fé, o ato de crer, é um subproduto da razão, ou seu efeito colateral. Pensamos, observamos, temos dúvidas, logo temos a necessidade de entender o que se passa à nossa volta. Queremos respostas. Daí surgiram, ao longo dos tempos, conceitos baseados na mais absoluta ignorância (falta de conhecimento).
A ausência de conhecimento da natureza fez supor um mundo sobre-humano (sub-humano também). Dos ventos aos raios, do Sol à Lua, das profundezas das águas às nuvens, o homem se viu amedrontado e vitimado pela obscuridade de simplesmente não entender, principalmente, a morte. Fico a imaginar como era encarada, nos primórdios da humanidade, a simples mudança de vento. Havia a necessidade de um Ser comandando e determinando tudo. Era a lógica possível.
De tal forma estivemos mergulhados nesse mundo paralelo, nos dando certa tranquilidade e certos medos, que está quase somatizado, repassado de geração em geração como verdade indiscutível. Conseguimos tornar nossos devaneios antepassados em conceitos visceralmente fortes no presente o bastante para afirmarmos, “com toda a certeza”, que temos alma, que temos espírito, e que eles são nossa sobrevida. Afinal, são milhares de anos de afirmação: "Tem que haver algo depois!". Mera especulação é o que de fato temos. Assim, hoje acreditam no resultado da falta de informação. Não na informação em si.
Abrir mão de milênios de espiritualização da bios é um esforço tremendo. Contudo, nada muda os fatos, nada muda a realidade da nossa implacável finitude e o silêncio do lado de lá.
Tudo isso nos remete à razão, ou ao ato de pensar. Porque parece natural que a concepção religiosa está ligada ao pensamento mais complexo que nos diferencia de uma besta. De outro extremo podemos observar que doenças degenerativas do cérebro tiram imediatamente a noção de fé. Os acometidos por síndrome de Down, por exemplo, também são incapazes de evoluir nesse campo da crença em “outro mundo”.
Crer parece ser algo aprendido, como quase tudo na vida em sociedade, tanto que as religiões são basicamente produções culturais já que elas estão concentradas em populações bem definidas e a mistura, digamos, se dá pela interatividade intercultural. Cremos somente no que nos foi ensinado no transcorrer da vida. No Brasil nascemos cristãos, por assim dizer. Nada além. Portanto, a espiritualização da existência passa pelo ato de pensar, da informação recebida e não de algo que transcende a isso.
Mais além, sou categórico em afirmar que a fé, o ato de crer, é um subproduto da razão, ou seu efeito colateral. Pensamos, observamos, temos dúvidas, logo temos a necessidade de entender o que se passa à nossa volta. Queremos respostas. Daí surgiram, ao longo dos tempos, conceitos baseados na mais absoluta ignorância (falta de conhecimento).
A ausência de conhecimento da natureza fez supor um mundo sobre-humano (sub-humano também). Dos ventos aos raios, do Sol à Lua, das profundezas das águas às nuvens, o homem se viu amedrontado e vitimado pela obscuridade de simplesmente não entender, principalmente, a morte. Fico a imaginar como era encarada, nos primórdios da humanidade, a simples mudança de vento. Havia a necessidade de um Ser comandando e determinando tudo. Era a lógica possível.
De tal forma estivemos mergulhados nesse mundo paralelo, nos dando certa tranquilidade e certos medos, que está quase somatizado, repassado de geração em geração como verdade indiscutível. Conseguimos tornar nossos devaneios antepassados em conceitos visceralmente fortes no presente o bastante para afirmarmos, “com toda a certeza”, que temos alma, que temos espírito, e que eles são nossa sobrevida. Afinal, são milhares de anos de afirmação: "Tem que haver algo depois!". Mera especulação é o que de fato temos. Assim, hoje acreditam no resultado da falta de informação. Não na informação em si.
Abrir mão de milênios de espiritualização da bios é um esforço tremendo. Contudo, nada muda os fatos, nada muda a realidade da nossa implacável finitude e o silêncio do lado de lá.
Oi André, adorei teu texto!
ResponderExcluirEu não escrevo bem mas, gosto muito de ler as pessoas que sabem escrever.... e como gosto muito de Filosofia e este texto está bastante filosófico..... sabe que essas questões me fazem refletir muito e penso que nunca chegaremos a uma conclusão, muitas vezes eu mudo de opinião dependendo das minhas leitruas, tudo é muito complexo e ao mesmo tempo fascinante.... penso muito na Fé, no espírito, na alma, mas nunca tinha pensado no efeito colateral.... a única certeza de que eu tenho é que precisamos acreditar em algo alguém SUPERIOR, caso contrário, não suportaríamos algumas dores....