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    A PARÁBOLA DO SEMEADOR

    Preste atenção neste trecho atribuído a Jesus no evangelho de Lucas, capítulo oito:

    Um semeador saiu a semear a sua semente e, quando semeava, caiu alguma junto do caminho, e foi pisada, e as aves do céu a comeram;
    E outra caiu sobre pedra e, nascida, secou-se, pois que não tinha umidade;
    E outra caiu entre espinhos e crescendo com ela os espinhos, a sufocaram;
    E outra caiu em boa terra, e, nascida, produziu fruto, a cento por um. Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
    Lucas 8:5-8

    E você sabe como uma terra se torna fértil? Um exemplo claro é a Amazônia, cujo solo é fraco, desprovido de riqueza de nutrientes. Mas se tornou a mais incrível cobertura vegetal da Terra. O ciclo se dá pela chuva e temperatura. No caso dessa floresta há pouca variação de temperatura e muita humidade. Assim, se chove e faz calor haverá riqueza de vegetais. Note a mata no Havaí, um solo vulcânico. O vento e animais trazem sementes, surgem as plantas que não requerem raízes profundas ou vivem apenas de humidade. Sua decomposição (húmus) cria material orgânico que vai alimentar outros vegetais e animais cada vez mais complexos.

    Eis o que diz Eduardo de Freitas, graduado em Geografia, no site Brasil Escola:

    Podemos afirmar que a serrapilheira sustenta a exuberância da floresta Amazônica, é uma fina camada de solo superficial formada a partir da decomposição de folhas, galhos, frutos, além de animais mortos, que formam uma rica matéria-orgânica. Isso acontece em um longo e complexo processo biológico, que então explica como, apesar de possuir um solo pobre, a floresta permanece sempre verde e exuberante.

    O ciclo se retroalimenta e só poderá ser interrompido se as chuvas cessarem ou diminuírem substancialmente.

    Outro exemplo significativo é o vale do Rift, no Quênia, África Oriental, que vive num ciclo de chuvas e seca intensa, forçando migrações incríveis todos os anos de animais em busca de pastos. Esse ciclo impede o surgimento de florestas e é caracterizado por extensas pastagens durante o período de chuva.

    Bem, voltemos ao texto bíblico atribuído ao Filho de Deus e, sobre o qual, não se poderia supor alguma ignorância. Primeira coisa a chamar a atenção é não perceber que as aves fazem parte da semeadura. Beija-flores, dentre outas aves, são polinizadores. Ou seja, levam polens de um lado a outro fecundando plantas. Outras distribuem sementes em suas fezes, contribuindo para a dispersão de vegetais. Da mesma forma insetos e mamíferos fazem parte da incrível engenharia de manutenção da cobertura vegetal. 

    Depois as sementes que caem sobre pedras obviamente não eclodem pela falta de terra, não bastando a umidade. Contudo, líquens e limos podem surgir, os quais servem de alimentos a vários micro-organismos e estes a outros etc.

    Em seguida o máximo do desconhecimento ao afirmar que espinhos sufocam outras plantas. Ora, a "briga" se dá pelo acesso à luz solar e não ao oxigênio. Se espinhos sufocassem imagine a própria terra cobrindo uma semente como nós mesmos fazemos no quintal. Contudo, usemos de um pouco de boa vontade, entendendo o sufocar de forma figurada. Mesmo assim, não há plantas que sejam apenas espinhos. Há, ainda, as frutíferas que possuem espinhos como variedades de laranjeiras e mesmo macieiras selvagens. Espinhos são parte da proteção natural de algumas plantas contra a agressão de animais.


    Por fim, a "terra boa". Voltamos ao caso da Amazônia para mostrar que solo rico depende, justamente, das próprias plantas. Além disso, a disseminação de plantas alimentícias não estão limitadas ao plantio com sementes. Exemplo disso é a Mandioca/Aipim/Macaxeira, alimentos dos mais comuns na nossa culinária, cujo plantio é feito com partes do caule e, portanto, não há ave que os coma pelo caminho.

    Assim, expostas essas observações imagino que, com pouco esforço mental, seja possível se perguntar do porquê um texto, que seria divino, esteja eivado de incongruências. Para mim é apenas mais uma comprovação da natureza humana e do conhecimento da época em que foi escrito. Deus não cometeria erros tão grosseiros.

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