ARTIGO: As salas de informática das escolas de Criciúma
CONHECIMENTO,
TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO
André Roldão
Charlene Cardoso professor-Tutor Externo
Centro Universitário Leonardo da Vinci -
UNIASSELVI
Curso História HID24
– Prática do Módulo V
20/06/2017
RESUMO
O presente artigo, como parte
dos estudos pessoais da história local propiciados no curso de História da
Uniasselvi, e sua realidade de momento, tem como objetivo localizar a
importância do conhecimento diretamente ligado ao uso das tecnologias
disponíveis através das salas de informática das escolas municipais, suas
possibilidades, dificuldades e estruturas disponíveis e/ou necessárias,
notadamente no âmbito da Educação pública de Criciúma e seus agentes.
Demonstrar a inércia governamental para com as salas de informática com
computadores sem qualquer serventia, o uso do Linux e a parca visão para com o
mercado e suas necessidades – a escola inexiste como agente produtora de
conhecimento neste contexto, bem como a concorrência com dispositivos
facilmente acessíveis no mercado. A imposição de atualizações constantes, tanto
de conhecimento, quanto de equipamentos e softwares. O surgimento dos primeiros
programas de inclusão da informática nas escolas de forma tímida, a
disponibilidade dessas mesmas tecnologias no ambiente escolar no município, o
atual quadro de total abandono e a estrutura absolutamente precária em que se
encontram as escolas da rede municipal de Criciúma nas últimas duas décadas.
Além de analisar possibilidades para que as escolas sejam incluídas como
agentes de formação de conhecimento para o mercado de trabalho. Por fim, um
exemplo para, ao menos, amenizar o quadro, sugestões de parcerias com a
iniciativa privada e uma “Lei Rouanet” para este seguimento. Haja visto que
tornou-se imperativo o afastamento dos programas de governo que são onerosos,
ineficientes diante da rapidez das mudanças e lentidão do Poder Federal e municipal.
1 INTRODUÇÃO
É imperativo o
uso de tecnologias no ensino escolar para que estudantes, e os próprios
professores, tenham condições mínimas para enfrentarem os avanços da sociedade
contemporânea e seus desafios. Haja visto que diariamente novas formas de
comunicação ou na feitura de novos itens de consumo batem às nossas portas. Ou,
sem reservas, novos equipamentos trazem maior produção e barateamento daquilo
que já consumimos, como os revestimentos cerâmicos, por exemplo, cuja indústria
assimilou a informatização e automação de seus processos.
Aprender e
desenvolver o currículo, integrando diferentes tecnologias à prática pedagógica
não difere em nada de uma reciclagem de conhecimento in company. Sob essa ótica, o aluno, parte essencial e agente na
aprendizagem, aprende ao levantar, praticar e testar ideias, na experimentação
desses conhecimentos, confrontando-os com o infinito exposto via internet. Cabe
ao professor motivá-los, criar situações que provoquem os alunos a interagir em
grupo, buscar informações, dialogar com especialistas e adquirir novos saberes.
O mundo está ao toque dos dedos!
Para tanto, o
professor necessita observar e dialogar com seu aluno para compreender suas
dúvidas, inquietações, expectativas e necessidades, e, ao propor atividades,
despertar nele a curiosidade e o desejo pelo conhecimento sempre novo, sempre
mais. Nesse contexto faz-se necessário o uso da internet e, por óbvio,
computadores, tablets, e telefones
móveis.
Assim, o
trabalho com projetos paralelos ou inseridos no currículo definido em grades de
conteúdos temáticos deixa de ser um quadro estático, trazendo para a sala de
aula as problemáticas que permeiam o cotidiano de todos. Ou mesmo aquilo que
está distante, na possibilidade de um dia estar próximo. As questões e os
conceitos do senso comum, dos livros didáticos, da imprensa e da sociedade como
um todo emergem com o aluno, transformados em questões e temas a serem
investigados por meio de projetos, pesquisas e debates. Eis o pano de fundo
necessário às novas descobertas e ao entendimento do mundo à sua volta e de
outros mundos possíveis.
Contudo, mesmo
que o professor compreenda a importância do uso de tecnologias, resta saber se
está apto e se a escola pública (leia-se: Governos) proporciona a estrutura
adequada. Em não propiciando, resta o enfrentamento ou adaptação para suprir as
necessidades e carências para que as tecnologias saiam do virtual e componham o
off line do nosso viver real.
2 O
INCENTIVO À PESQUISA
As salas de informática
começaram a ser montadas em Criciúma há nove anos. Foi em 2008 que os primeiros
computadores chegaram num programa do Ministério da Educação, o PROINFO. Para
cada escola com sala disponível e com séries até o nono ano foram entregues 24
unidades. Porém, as primeiras iniciativas de levar informática a alunos da rede
pública se deram muito antes.
O interesse do governo brasileiro pela
informática na educação iniciou-se na década de 1980, através do Projeto Educom
(1985-1991), que tinha por objetivo fomentar o desenvolvimento da pesquisa
multidisciplinar voltada para a aplicação das tecnologias de informática na
educação. Em seguida, foi implementado, em 1987, o Programa de Ação Imediata em
Informática na Educação - Projeto Formar, criado pelo MEC para preparar
professores de todo o país para utilizar a Informática na Educação e
trabalharem nos CIEDs - Centros de Informática na Educação, como
multiplicadores do processo de formação de outros professores em suas
instituições de origem (ALMEIDA, 2000).[1]
A tarefa, às vezes
inglória, do ato de ensinar tem, invariavelmente, o desafio de cativar a
atenção. A concorrência constante de um mundo repleto de atrativos, luzes,
cores, sons e efeitos mirabolantes, depara-se com a necessidade dos alunos de
absorverem conhecimento, mesmo que não o saibam dada a imaturidade da idade.
Contudo, a lentidão do poder público é flagrante e resulta na distância entre
alunos da rede pública em relação aos da privada. Impossível aceitar a ideia de
que haja um hiato de 28 anos entre as primeiras iniciativas e a chegada dos
computadores a uma cidade polo como Criciúma.
Segundo Prado (1997)
Na pedagogia de projetos, o aluno aprende no processo
de produzir, levantar dúvidas, pesquisar e criar relações que incentivam novas
buscas, descobertas, compreensões e reconstruções de conhecimento. Portanto, o
papel do professor deixa de ser aquele que ensina por meio da transmissão de
informações – que tem como centro do processo a atuação do professor – para
criar situações de aprendizagem cujo foco incida sobre as relações que se
estabelecem nesse processo, cabendo ao professor realizar as mediações
necessárias para que o aluno possa encontrar sentido naquilo que está
aprendendo a partir das relações criadas nessas situações.[2]
Resta equilibrar a necessidade do uso
de tecnologias nesse “criar situações de aprendizagem” e a capacidade do Estado
de prover equipamentos adequados e à demanda de atualizações, exigidas
diariamente pelo mercado e acesso dos estudantes a tudo isso. Assim, a lentidão
do poder público é barreira intransponível.
As salas de informática nas escolas
deixaram de ser uma opção para tornar-se uma demanda imperiosa. Porém, sob o
risco de não atender o mercado de trabalho, ser uma mera placa na porta sem
fomentar conhecimento.
3 DEMANDAS POR ATUALIZAÇÕES
Desde o surgimento dos computadores e internet as ferramentas
virtuais não param de nos surpreender e exigir cada vez mais sob todos os
aspectos.
Há aproximadamente 69 anos surgia o primeiro
computador, o ENIAC. [...] Bom, à época, era uma inovação estupenda no ramo das
comunicações. Esse tipo de computador, mainframes, foi sendo aperfeiçoado e,
aproximadamente, em 1965 surgia um dos primeiros computadores pessoais. Dez
anos depois surgiram iniciativas da Intel, Microsoft, IBM e, ainda, Apple Inc,
o avanço exponencial dos computadores pessoais e de sistemas operacionais, do
MS-DOC para Windows, Linux, OS X; avanços de processadores, expansão de
memórias etc. Ainda no século XX, surgem as redes sociais [...]. É evidente
como as tecnologias da informação em consonância com a Internet modificaram a
forma como as pessoas se comunicam.[3]
Os
Parâmetros Curriculares Nacionais fazem um alerta diante da corrida da profusão
do mundo virtual quanto ao domínio da tecnologia em que “só faz sentido,
quando se torna parte do contexto das relações entre homem e sociedade. Assim,
ela representa formas de manutenção e de transformação das relações sociais,
políticas e econômicas, acentuando a barreira entre os que podem e os que não
podem ter acesso a ela”[4].
Ou seja, quem não acompanha fica para trás e não se torna apto às oportunidades
que surgem. Porém, vale ressaltar que o ter acesso é livre e há quem não o
tenha da mesma forma como em todos os demais serviços e produtos na sociedade.
Nesse sentido fortalece o papel da escola em suplantar a
ausência de acesso que por vezes a família enfrenta. O papel do Estado vai além
do prover conhecimento no ambiente escolar para também prove-lo acesso ao mundo
on-line, ao menos para mostrar esse
mundo e suas possibilidades.
Assim, apesar da necessidade dos próprios computadores é
preciso que seu hardware esteja apto
às constantes atualizações de software.
4 A ESTRUTURA
O Plano Municipal de
Educação - PME, de Criciúma, com vigência por 10 (dez) anos (2015-2024), em
cumprimento à Emenda Constitucional nº 59/2009 e do disposto no art. 214 da
Constituição Federal, fala em sua Meta 6, da
EDUCAÇÃO INTEGRAL, sobre a informática: “Institucionalizar
e manter, em regime de colaboração, Programa nacional de ampliação e
reestruturação das escolas públicas (...) Da instalação de quadras cobertas
poliesportivas, laboratórios, inclusive de informática”[5].
Além disso, determina também
no item 19 da Meta 12 “Estimular a participação das mulheres nos cursos de
graduação, em particular aqueles ligados às áreas de Engenharia, Matemática,
Física, Química, Informática e outros no campo das Ciências”. Estranhamente
deveria tratar de estimular todo e qualquer cidadão, não se referindo a um
gênero, como se homens estivessem natural e espontaneamente incluídos no mundo on line. Não bastasse isso, reforça o
sexismo no item 6 da meta 14 ao “Estimular a participação das mulheres nos
cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu, em particular aqueles ligados às áreas
de Engenharia, Matemática, Física, Química, Informática e outros no campo das
Ciências”. De qualquer forma está na Lei a informática em pé de igualdade com
as demais demandas escolares.
Consta-se de forma muito
clara que Criciúma está muitíssimo atrasada e sem condições de cumprir sua
própria Lei em detrimentos das necessidades dos alunos da rede pública.
A ESTRUTURA DAS ESCOLAS EM CRICIÚMA
As escolas sob a
responsabilidade da prefeitura de Criciúma possuem salas (laboratórios) de
informática. Receberam, em 2008, 24 computadores cada uma do ProInfo, do
governo Federal.
O ProInfo:
É um programa educacional com o objetivo de promover o uso
pedagógico da informática na rede pública de educação básica. O programa
leva às escolas computadores, recursos digitais e conteúdos educacionais. Em
contrapartida, estados, Distrito Federal e municípios devem garantir a
estrutura adequada para receber os laboratórios e capacitar os educadores para
uso das máquinas e tecnologias[6].
Porém, ao entrevistar
diretores de três escolas da rede municipal e a secretária da Educação Roseli
de Lucca, restou claro que o objetivo se perdeu na desatualização dos
equipamentos e na plataforma usada, o Linux. Supõe-se que, para que a inclusão
digital seja minimamente razoável os alunos deveriam ter acesso ao Windows
também.
Na escola Lili Coelho,
bairro Santa Luzia, a diretora Mônica Alves da Silva Rodrigues, relatou
problemas na manutenção dos equipamentos e que chega a ter 30 alunos no
laboratório de informática com 10 unidade em condições de uso, além de ser
incompatível com o Windows, que resulta em desconfiguração do que é digitado em
casa e trazido para a escola. Também observou a péssima conexão com internet, a
qual esteve sem sinal por nos dois primeiros meses deste ano letivo.
O professor Márcio
Floreano, diretor da escola Ângelo De Lucca, no bairro Pedro Zanivam, relata o
sucateamento dos computadores que, para manterem alguns funcionando é preciso
retirar peças dos demais. Assim, dos 24 que a escola recebeu, restam 15, e
desses há apenas 10 funcionando.
Já na escola Jorge da Cunha
Carneiro, bairro Brasília, sequer há sala de
informática. Faz cerca de cinco anos a unidade escolar precisou de mais espaço
para abrigar turmas e fez uso da de informática. Os computadores foram
remanejados para outras unidades educacionais do município. Contudo, segunda a
auxiliar de direção, Ana Cristina da Silva, sua escola participa ativamente de
projetos da Federação das Indústrias do estado de Santa Catarina (Fiesc),
através do SESI (Serviço Social da Indústria) e Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), o que
poderá resultar em novos computadores na forma de doação. Porém, não previsão
exata, sendo a expectativa para este ano.
A secretária Roseli de Lucca disse que,
ao assumir o cargo este ano, providenciou a contratação de profissional de
informática para realizar um levantamento das condições em que se encontram as
salas e os computadores. Tal iniciativa, iniciada em Abril, ainda transcorre, não
sendo possível uma conclusão e assegurou que em 2017 nada será feito. Relatou
também que o Ministério da Educação fez manutenção por três anos, até 2011.
Como paralisou o serviço restou a dúvida se o município poderia executar algum
trabalho em patrimônio da União. Até que fosse sanada a dúvidas nada foi feito
nesse sentido.
Criciúma possui 52
escolas, 30 até o 5º ano e 22 até o 9º ano.
3 CONCLUSÃO
Diante do exposto, de que
há mais de 30 anos o governo Federal iniciou o envio de computadores para
escolas públicas, vê-se que o município de Criciúma não tomou qualquer
iniciativa por si mesma. Ressalta-se, dessa forma, ou sua ineficiência ou a
dependência do poder central, restando-nos mais perguntas que respostas. Alguma
dúvida de que no mundo dos computadores as atualizações são diárias e um
equipamento perde boa parte de sua capacidade de absorver novos softwares em um
ano? E em dois ou três anos está obsoleto? Não, não há qualquer dúvida.
Portanto, depender de programas de governos que estão muitíssimo longe de
acompanhar o mercado é o mesmo que não ter tais programas. Qualquer
profissional da área dirá o mesmo!
Qual o tempo razoável
para que decisões importantes de Brasília cheguem aos municípios? Impossível
responder. Contudo, é evidente a demora absurda e até a desconsideração pelas
necessidades de mercado e novos profissionais que os programas de governo para
a área abordada neste artigo demonstram. Assim, vemos de forma absolutamente
clara que, ou os governos mudam radicalmente sua postura para com as salas de
informática, ou abandonem a ideia.
Um exemplo de alternativa
consistente para com salas de informática vem do Bairro da Juventude. A instituição,
referência desde a década de 1950 em assistência às comunidades carentes,
providenciou sala de informática para treinamento de seus estudantes há, pelo
menos, 11 anos, resultado de parceria com a Betha Sistemas, empresa de
softwares para o setor público. Essa demonstração de agilidade e visão
empreendedora não chegou ao Paço Municipal Marcos Rovaris, esperando-se que
tenha na atual administração a partir de 2018, ao menos.
Não resta qualquer dúvida
de que o setor público não consegue acompanhar o privado. Assim, por mais que
queiramos a divisão social de impostos, carecemos de uma “lei Rouanet” para a
informática. Ao contrário da citada lei que evidencia critérios de aprovação
dos mais duvidosos, investimentos em salas de informática nas escolas públicas
não seriam alvos das ideologias e apadrinhamentos para exposições e encenação
de valor social tão difuso que perdem a visão de utilidade à sociedade. As tais
salas, ao contrário, seriam muito melhor aproveitadas tanto pelo corpo docente,
quanto pelo discente.
Eis que, diante da
extrema necessidade de mercado e das escolas públicas, da ineficiência dos
programas governamentais para esta área, da pouca articulação política da
direção das unidades escolares, nos vemos diante de um quadro nada animador.
Entretanto, há, como no exemplo dado, a perspectiva de viabilidade. E é nessa
visão que reside a esperança.
REFERÊNCIAS
FREIRE e PRADO. Projeto pedagógico: pano de fundo para
escolha de software educacional. O computador na sociedade do conhecimento
VALENTE, J. A. (Org.). Campinas: Nied-unicamp, 1999. p.111
ALMEIDA, Maria Elizabeth
Bianconcini de. PROINFO – Informática e
formação de professores, v. 1. Secretaria de Educação a Distância.
Brasília: Ministério da Educação, SEED, 2000a, 192 p. – Série de Estudos.
Educação a Distância.
ProInfo, Programa
Nacional de Tecnologia Educacional.
http://portal.mec.gov.br/proinfo/proinfo. Acesso em 11 de Maio de 2017.
CRICIÚMA, Plano Municipal de Educação. Acessível em https://leismunicipais.com.br/plano-municipal-de-educacao-criciuma-sc.
Acesso em 19 de Maio de 2017.
Lima Carla Maria. Portal Administradores. 10 de fevereiro de
2016. http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/o-mundo-dos-apps/93426/.
Acesso em 19 de Maio de 2017.
Parâmetros Curriculares Nacionais, Ministério da Educação.
http://portal.mec.gov.br/pnaes/195-secretarias-112877938/seb-educacao-basica-2007048997/12657-parametros-curriculares-nacionais-5o-a-8o-series.
Acesso em 18 de Maio de 2017.
[1] ALMEIDA,
Maria Elizabeth Bianconcini de. PROINFO – Informática e formação de professores.
Pág. 139.
[2] PRADO,
Maria Elisabette Brisola Brito. TECNOLOGIA, CURRÍCULO E PROJETOS. Pág. 4
[4]
Parâmetros Curriculares Nacionais - Ministério da Educação, pág. 137.
[5] Plano
Municipal de Educação de Criciúma. 2014.
Nenhum comentário
Comentários com conteúdo agressivo não serão publicados.