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    DEUS TE ABENÇOE

    Bênção ou abençoar, são palavras repetidas à exaustão diariamente. Geralmente uma manifestação de um desejo altamente positivo, ou mera expressão semelhante ao ''graças à Deus'', cujo significado se perdeu no tempo e no próprio significado. Como funciona? Quem abençoa quem? Quem diz "Deus te abençoe" ou o Deus invocado? Na prática vemos algum resultado disso? Precisamos disso?

    Antes de tentar alguma resposta vamos ao significado de Bênção no Dicio:
    Ação de benzer, de abençoar, de invocar a graça divina sobre: o padre fazia a bênção do pão e do vinho; o sacerdote deu sua bênção aos fiéis.Invocação dessa graça divina, através do sinal da cruz feito no ar com os dedos ou por aspersão de água benta.Desejo de felicidade, de proteção de Deus a alguém.A graça concedida e atribuída a Deus: aquele trabalho foi uma bênção. [Por Extensão] Bem; o que acarreta o bem e felicidade: as férias foram uma bênção para ela.
    Não há texto bíblico que trate claramente como anjos nos ajudam
    Um dos decretos do Concílio Ecumênico Vaticano II, que trata de rituais ou celebrações de bênçãos, reformado pelo Papa João Paulo II, tem 734 páginas. Isso torna evidente que a Bíblia não é suficiente para tratar do assunto. E, sem medo de errar, dada a quantidade de textos, a fantasia tomou conta das cabeças. Nesse documento, que detalha quem faz o quê, diz que a bênção desce "pelo homem, mas não do homem". Ou seja, um ser humano é meio pelo qual o Deus católico ajuda alguém. Tal pensamento reforça a instituição. Por óbvio, a Igreja precisa atestar sua autoridade através de seus agentes a mostrar que os crentes não podem ter contato com o seu Deus sem quem faça o meio-de-campo. Pior, supõe que Deus precise de intermediários como a isolar-se a si mesmo dos seres inferiores, aquele que está abaixo do baixo clero.

    Ora, que Deus mais fuinha que não age por si mesmo! Esse é o ponto: Deus precisa ser acionado para ajudar alguém?

    Num dos cultos que fui na CENJ - Comunidade Evangélica Nova Jerusalém, de Criciúma, um rapaz de uns 20 anos faz uma oração durante o louvor e diz em alto e bom som: "Pai, eu te autorizo a abençoar...". Autoriza Deus? Sim, ele disse essa heresia.

    No Islã a saudação mais comum, que é abençoadora, é As-Salamu `Alaykum (السلام عليكم). A tradução é "A paz de Allah esteja convosco.". Além disso, wa RaḥmatulLahi wa BarakatuHu (ورحمة الله وبركاته) significa "A misericórdia de Deus e a Sua bênção." A resposta a esta saudação é Wa Alaykum As-Salam Wa RahmatulLahi wa BarakatuHu (و عليكم السلام ورحمة الله وبركاته), que significa "E a paz e a misericórdia de Deus e a Sua bênção esteja sobre você." (glossário completo do Islã AQUI)

    No Candomblé, outro exemplo, o ato de dar e tomar benção tem relação com o Inkis’i/Orisá/Vodun alheio. Como um poder personalizado.

    Duas considerações básicas me vem à mente para começar. Primeira, que, suponho, Deus não se deixa manipular ou influenciar a ponto de fazer o bem a quem não quer; segunda, que autoridade um ser humano tem para invocar uma ação divina? Além disso, tradicionalmente patriarcal a bênção está ligada à autoridade do progenitor ou à autoridade eclesiástica, ou à autoridade que um acha que o outro tem.

    Pedir a Deus que abençoe alguém sugere um Deus passivo, à espera de movimentações humanas para agir. É, definitivamente, um Deus projetado pela mente humana. Ou, ao invocar a bênção o sujeito diz, indiretamente, que não pode fazer algo de bom para o outro. Transfere, assim, suas obrigações, caso as tenha. O "Bênça tia!" só não é pior que o que vem depois, "Deus te abençoe!". Qual a dificuldade de ensinar a criança a buscar por si? Trata-se apenas de vínculos familiares de autoridade sem valor em si mesmo, pois são precedidas, justamente, dessa relação entre parentes. É como se para ter autoridade eu tenho que ter, primeiro, autoridade.

    Outro aspecto é a ideia de que a bênção é resultado de comportamentos ditados pela religião, seja lá qual for. Ao me comportar como sugerem os dogmas da igreja serei digno de que Deus me faça algo de bom, me dê isso, resolva aquilo. E, caso isso não aconteça, Ele está me provando porque vai me dar coisa ainda maior e mais significativa. (Esse povo tem explicação para tudo e sempre no futuro, pois o presente é absolutamente humano e comum).

    Fora da crença religiosa não há quem especifique o funcionamento de bênçãos e nem sequer se elas existem. O máximo que podemos transigir é de que precisamos nos comportar socialmente bem para ter uma vida sossegada, com todos os riscos de estar vivo. Sem contar que no catolicismo ser rico era pecado e com o protestantismo a coisa simplesmente se inverteu. Esse cristianismo é mesmo uma "unanimidade".

    Abençoar é desejo e, como todo desejo, é seletivo. Um desejo seletivo que envolve a vontade de Deus pode ser bom? Não. Deus se move pelas conveniências humanas? Para haver a "benção" a resposta é SIM, eliminando a própria vontade Dele. O que me parece estar claro é o sentir-se bem. E sentir-se bem não é referência alguma para verdades ou mentiras.

    Na prática se um "Deus te abençoe", ao sair para uma viagem, não garante o retorno, de nada vale.

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