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    SELFIE, O SINTOMA

    O selfie não é tão inocente quanto possa parecer. E, como em quase todos os problemas de ordem psicológica, o doente não tem consciência de seu mal. Pode ir do clássico narcisismo, carência afetiva, falta de sexo, até um jeito desesperado de dizer "eu estou aqui". Eis que, tal a dimensão dada pelas redes sociais, estamos diante de um mal de proporções inimagináveis.

    A exposição de si mesmo é muito anterior aos celulares
    Matéria da revista Exame diz, em reportagem no dia 11 de Outubro de 2016:
    Pessoas que usam o Facebook com frequência para fazer posts sobre dietas, rotinas de treino e conquistas na academia tendem a ser narcisistas, revelou um estudo conduzido por psicólogos da Brunel University London. (...) Esse comportamento foi diagnosticado pelos estudiosos como um transtorno de personalidade.

    Mas não fica no narcisismo via assuntos, passa pela própria exposição de si mesmo de forma contínua. Inclusive diária. Há uma excitação, um prazer incontido de mostrarem-se sem que seja avaliado qual o interesse dos outros em ver. Ora, e quem vai considerar que gostar de se mostrar não é auto-estima, mas um problema? Paralelamente verifica-se em que nível se estabelece a relação com as demais pessoas que acompanham as postagens, notadamente no Instagram. Segua mais da matéria:
    Os psicólogos também ponderam que, apesar de atrair um grande número de “likes” e comentários de incentivo, essas reações de outros usuários não necessariamente indicam aprovação. “Esses amigos podem estar educadamente oferecendo seu apoio, mas secretamente reprovando essa exibição egoísta”, afirma a professora Tara Marshall, uma das responsáveis pela pesquisa.

    Faraós tinham a necessidade de modificar a própria aparência
    Aliada às muitas necessidades de expor-se estão outros aspectos como a mudança de aparência e a luta contra o envelhecimento que vemos em nossos dias através de intervenções cirúrgicas, repulsa às gordurinhas etc. Creem alguns que há uma cobrança da sociedade. Entretanto, noto que a cobrança é mesmo do indivíduo. Como culpar uma sociedade que está crescendo em níveis de IMC (Índice de Massa Corpórea) acima do normal por cobrar que você tenha este índice sob controle? Incoerente, não achas? Nos EUA mais da metade da população está gorda.

    A foto, como poucos observam, é uma forma de perpetuar-se numa imagem agradável para si, produzida, seja com poses, seja com maquiagem, seja em ambientes cuidadosamente escolhidos. Para o autor a foto cristaliza o seu melhor e ultrapassa os danos do tempo. O "Eu" não é o de agora, mas o daquela foto bonita. A superficialidade disso é assustadora, haja visto que não traz consigo nenhum valor social, intelectual ou cultural. Talvez algo familiar que terá significado muitíssimo restrito e não diz respeito aos de fora.

    O reforço da imagem é um dispositivo, digamos, natural, instintivo, já que no ritual do acasalamento estão as condições de saúde, capacidade de provimento/proteção do macho e fertilidade da fêmea. E tudo isso se manifesta pela beleza do corpo. Sendo "beleza" a simetria e proporcionalidade desse corpo. Fica evidenciado que as redes sociais são vitrines, como um produto à "venda". Sendo muito mais claro na quantidade de fotos quando do fim de um relacionamento e busca por outro.

    Diante de carências as curtidas servem para amenizar o vazio. Ora, a curtida é a materialização da visualização. "Puxa, fui vista!", pensa, mesmo que subliminarmente, o(a) autor(a) da foto. Mas sua ausência também agrava a escuridão em que a mente se encontra. O comentário, geralmente elogioso, serve como um carinho tão necessário. E, como tudo que é momentâneo, não satisfaz por muito tempo, exceto ao narcisista que tem em si a satisfação de que sente necessidade.

    O fato de precisar urgentemente de sexo tem o obstáculo de não poder tratar disso abertamente. Quem, em sã consciência, postaria: "Quero transar!"? Além disso, temos muitos dispositivos de filtragem para chegarmos ao sexo com alguém. Nesse contexto a selfie é o "Quero transar!".

    Há algumas possibilidades de lidarmos com isso. Contudo, gostamos mesmo da pessoa que está exagerando? Se sim qual seria a possibilidade de comentar? Pior se você pratica o mesmo... Ficou clara a dificuldade do assunto quando o expus em rede social dizendo numa #roldanica: "Burrinha, se você tivesse um conteúdo atraente não postaria fotinha do corpo com a ideia de que não vêem sua essência". Coisa que foi logo tratada como se eu estivesse condenando a selfie. Não, nada disso, creio que ela seja necessária aos modelos fotográficos e de passarela, por exemplo. A postagem se refere à conexão que a pessoa faz de ideias desconexas: aparência e essência, pois nega sua essência na foto ao dizer que o outro não a vê. Resta claro que as demonstrações de quem somos estariam mais consistentes nas ideias que temos, nas relações interpessoais, atividades profissionais, sociabilidade, locais que frequentamos etc. A foto jamais refletirá o todo.

    Há ainda o problema não sanado de não postar e não ter suas necessidades resolvidas. O fim do selfie não é o fim do narcisismo e muito menos das carências. Daí vem o objetivo deste blog: a discussão do assunto. Aqui jogamos o tema e alguns de seus muitos aspectos envolvidos.

    Que seja útil!

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