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    Por que não sou “evangélico” - por OLAVO DE CARVALHO

    Se ainda não sabes eu sou agnóstico. Diferente do ateu não nego a existência de Deus. Apenas a ignoro. E ignorar não é dar as costas como estando diante de uma pessoa. Ignoro porque não o conheço. Para mim é óbvio que o Criador não usaria de um livro para nos dizer coisas que demandam interpretação e, como tal, divergências. Para mim, dada uma suposta natureza de um Deus, nos falaria a mesma coisa em todos os tempos para todos os humanos, coisa que não se dá um hipóteses alguma, com nenhuma das religiões conhecidas.
    Por isso e apesar disso segue um texto do filósofo Olavo de Carvalho, a quem reputo grande admiração no que tange à política, filosofia e arrazoados sociais. Porém, como a maioria dos humanos, rende-se à fraqueza indubitável do medo da morte e da perdição eterna, agarrando-se àquilo que só subsiste na fé pessoal: "Creio, logo existe!".
    Boa leitura!

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    Por que não sou “evangélico”


    “Não sou autoridade nenhuma em matéria de Teologia – como alegam sê-lo tantos que vêm usurpar o espaço no meu Facebook para me xingar de tudo quanto é nome –, mas uma coisa que sei fazer é ler. Ler e compreender. Faço isso não só em português e em outras línguas modernas, mas em algumas antigas. Não leio com a mesma fluência do português, do inglês ou do francês em grego clássico, mas compreendo esse idioma o suficiente para consultar dicionários, tirar dúvidas sobre o sentido de algumas palavras e averiguar o acerto ou erro de uma tradução. É com base nisso que asseguro:
    1. Em parte nenhuma do Evangelho Nosso Senhor diz que ler a Bíblia ou mesmo acreditar nela vai nos salvar. Não há ali sequer uma frase, um trechinho, uma palavra, em que Ele nos recomende a leitura do grande livro. O que Ele diz, isto sim, e com palavras inconfundíveis, é que a salvação, o ingresso na vida eterna, só vem por um único meio: comer o Seu Corpo e beber o Seu sangue. Nem mesmo um retardado mental pode confundir essas duas ações com a leitura de um livro, por santo e sublime que seja.
    2. Um rito, por definição, é a repetição formal e exata de um ato fundador, o qual dessa maneira salta a barreira do tempo e se torna novamente presente com o mesmo poder e eficácia do instante originário em que se realizou. Quando batizamos um bebê, não estamos apenas rememorando o que fez João Batista, mas repetindo com atual vigor e efeito o que ele fez nos tempos bíblicos: integrar uma nova alma humana no Corpo Místico de Cristo, abrindo-lhe em potência as portas do Céu.
    3. Tanto em Lucas 22:19 quanto em Coríntios 11:24-26, Jesus, ao consagrar o pão e o vinho, ordena a Seus discípulos: “Fazei ISTO em memória de mim”. A expressão grega é muito clara: “toyto poiête” – “fazei isto”. Ele não disse “fazei um memorial disto”, mas “fazei ISTO”: consagrar o pão e o vinho, transformando-os no Corpo e no Sangue do Redentor. Isso é o ponto culminante da Revelação cristã, a chave mesma da salvação. Lutero, Calvino e seus seguidores reduziram esse ato a um simples “memorial”, esvaziando-o da sua eficácia ritual no presente e negando a transformação real das duas substâncias. Curiosamente, não fizeram o mesmo com o rito do batismo. O famoso “batismo nas águas” das igrejas evangélicas não se apresenta como um puro “memorial” do que João Batista fazia, mas como um rito atual, investido das mesmas propriedades do batismo conferido por João Batista. Se o batismo tem esse poder, por que não o teria a Eucaristia?
    4. Recusando-se a obedecer a ordem explícita de Jesus Cristo, Lutero, Calvino e tutti quanti instituíram em lugar dela o biblismo, o culto do texto bíblico, fazendo deste, em vez da Eucaristia, o centro da revelação cristã, reduzindo portanto o cristianismo a uma “religião do livro” (ahl-al-kitab) tal como a entendem os muçulmanos.
    É meu direito e meu dever considerar isso uma heresia, um escarnio e um escândalo, temendo pelo destino eterno de todos os que se deixaram enganar por tão grosseira patifaria.

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